O Principezinho de Antoine de Saint-ExupéryÉ um cântico à amizade e à camaradagem e mostra-nos como se constrói um laço de amor.
Como explica a raposa, a amizade consiste no paciente processo de aprendizagem progressiva e na descoberta recíproca da confiança que acontece quando dois seres são «cativados» um pelo outro.
Deixar um “pedaço de mim” sem mencionar este livro que me acompanhou ao longo de toda a minha vida, e me fez crescer como ser humano, não seria efectivamente dar-vos um pouco de mim.
E, como pretendemos que o elo que nos liga, aqui no “Pedaços de Nós”, seja a amizade…
Transcrevo o episódio da raposa, excerto que nos fala do verdadeiro significado desta palavra.
“-Quem és tu? - Perguntou a principezinho - És bem linda…
- Sou uma raposa - disse a raposa.
-Vem brincar comigo - disse o principezinho - Estou tão triste…
-Não posso brincar contigo - disse a raposa - Ainda ninguém me cativou.
…
-
O que quer dizer «cativar»?…
- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa -
Significa «criar laços…».- Criar laços?
- Isso mesmo - disse a raposa - Para mim não passas ainda de um rapazinho muito parecido com cem mil rapazinhos. E não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Para ti sou apenas uma raposa semelhante a cem mil raposas. Mas, se me cativares, teremos necessidade um do outro. Para mim serás único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
- Começo a compreender - disse o principezinho - Há uma flor… creio que ela me cativou…
… se me cativares a minha vida ficará como que iluminada pelo sol. Conhecerei um ruído de passos que será diferente de todos os outros. Os outros passos fazem-me meter debaixo da terra. Os teus, chamar-me-ão para fora da toca como uma música. E além disso, olha! Vês, além, os campos de trigo? Não me alimento de pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado! O trigo, que é dourado, far-me-á lembrar de ti. E amarei o som do vento no trigo…
- Só se conhecem as coisas que se cativam - disse a raposa - Os homens já não têm tempo para conhecer o que quer que seja… Se queres ter um amigo, cativa-me!
- O que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É necessário ser paciente - respondeu a raposa. Sentas-te primeiro um pouco longe de mim, assim, na erva. Eu olhar-te-ei pelo canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é fonte de mal-entendidos…
Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da partida:
- Ah! - disse a raposa… Vou chorar.
- A culpa é tua - disse o principezinho, eu não queria que te acontecesse nada de mal, mas quiseste que te cativasse…
- É certo - disse a raposa.
- Mas vais chorar! - disse o principezinho.
- Vou - disse a raposa.
- Então não ganhas nada com isso!
- Ganho - disse a raposa - por causa da cor do trigo.
Depois acrescentou:
- Vais olhar outra vez as rosas. Compreenderás que a tua é única no mundo. Voltarás para me dizer adeus e eu faço-te presente de um segredo.
O principezinho foi ver outra vez as rosas.
- Não são de modo nenhum parecidas com a minha rosa, ainda não são nada, disse-lhes ele. Ninguém vos cativou e vocês não cativaram ninguém. São como era a minha raposa. Era uma raposa parecida com cem mil outras. Mas fiz dela minha amiga e agora ela é única no mundo.
E voltou para junto da raposa:
- Adeus, disse…
- Adeus - disse a raposa. Eis o meu segredo.
É muito simples: só se pode ver bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho de modo a poder recordar-se.
- É o tempo que perdeste com a tua rosa que torna a tua rosa tão importante.
Os homens esqueceram esta verdade - disse a raposa - Mas tu não deves esquecer-te.
Tornaste-te para sempre responsável por aquilo que cativaste. Tu és responsável pela tua rosa…
- Sou o responsável pela minha rosa… - repetiu o principezinho, para se recordar.”