Não foi por
acaso que a paixão nos envolveu, que se apossou das nossas vontades e desejos... os meus desejos iam de encontro às tuas vontades e os teus desejos eram as minhas vontades...
Não foi por
acaso que a paixão se transformou em amor... um amor tão imenso e intenso que nos aprisionou duma dependência, inquestionável, de corpo e alma...
Não foi por
acaso que a cumplicidade se manifestou entre nós... encontrávamos, sempre, um no outro, as respostas às nossas dúvidas...
Não foi por
acaso que embalaste os meus sonhos ao som da tua flauta... harmoniosas melodias que tocaste para mim, para nós, que nos deixavam num êxtase inconcebível e nos transportavam ao infinito das profundezas das nossas almas... lá, onde conseguíamos, ambos, chegar... lá, onde só existíamos os dois, um mundo só nosso e só reconhecido por nós... lá, onde os dois sonhámos o mesmo sonho...
Não é por
acaso que ainda te revejo por entre laivos de memória, de olhos semicerrados, os longos e esguios dedos dançando e tapando os orifícios daquele pequeno instrumento musical, emitindo o som do nosso amor que preenchia o nosso quarto... deleitava-me permanecer imóvel sobre o teu peito a ver-te, a olhar-te, a sentir-te... tão meu, tão em mim... vezes sem conta adormeci no calor dos teus braços, feliz pela tua presença na minha vida, pelo teu desejo de mim, pelo carinho que emanava cada gesto teu, feliz pelo manifesto amor que tinhas por mim e que ainda, hoje, sei que tens...
Não foi por
acaso que os nossos corpos se saciavam um no outro, instrumentos dos prazeres e dos desejos do nosso voluptuoso querer... foste tu quem me fez mulher... foi contigo que descobri e apreendi os prazeres de fazer amor... e como fizemos amor...! Ai, meu amor, não é por
acaso que te guardo no meu coração...
Não foi um
acaso nem por
acaso que perante o nosso Deus te disse que “
sim”, que seria tua para todo o sempre...
Não foi por
acaso que durante anos me fizeste a mulher mais preenchida da tão desejada felicidade...
Não foi por
acaso que os frutos do nosso amor foram concebidos... eles que são o testemunho vivo do quanto nos amámos...
Não foi por
acaso que edificámos uma vida juntos... que construímos o nosso “porto de abrigo”...
Mas... e também...
Não foi o
acaso nem por
acaso que em uma qualquer esquina da vida,
nos perdemos um d
o outro...
Meu amor, o que daria para, de novo, encontrar essa esquina, achar-te e trazer-te para junto de mim... Hoje, olhamo-nos e não nos vemos... tocamo-nos e não nos sentimos...
Não é por
acaso que se soltam as lágrimas ao escrever estas palavras... elas são a saudade que sinto de ti e tenho de nós...
Não é por
acaso que quando nos olhamos, sentimos e temos tão presente o quanto nos quisemos... mas, hoje, apenas os nossos olhos percebem e reconhecem a saudade que sentimos um do outro... as palavras não falam e os nossos corpos não se procuram...
O
acaso não existe... o
acaso fomos nós que o fizemos... o
acaso somos nós que o fazemos...
Assim como não foi por
acaso que este texto foi redigido... realidade ou ficção, permanece, talvez, a incógnita... mas uma certeza é certa... não é por
acaso que quero que faça parte das memórias do “
Pedaços de Nós”...