"Pior que a convicção de um não
ou a incerteza de um talvez
é a desilusão de um "quase"
é o quase que me incomoda, que me entristece,
que me mata trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou, ainda joga
Quem quase passou, ainda estuda
Quem quase morreu, está vivo
Quem quase amou, nunca amou"
(Luís Fernando Veríssimo)
Muitas vezes penso nas coisas que quase fiz, nas palavras que quase disse, nos lugares onde quase cheguei, nas pessoas que quase conheci, nos desejos que quase realizei, nos momentos que quase vivi.
Não penso nelas como uma perda... na verdade, nunca cheguei a tê-las. Estive perto. Estive quase.
Nunca ninguém me disse que não as podia ter. Nunca ninguém me disse que não as merecia. Apenas me desencontrei de umas e cheguei tarde a outras.
Consigo lidar bem com as perdas definitivas. Sou Escorpião e, tal como dizem os astros, morro e renasço facilmente. Supero o que não é possível. Esqueço o que não está ao meu alcance.
Um não doi, magoa, fere... mas liberta-me e faz-me querer virar a página. Consegue ter em mim um poder regenerador, que me faz querer seguir em frente, mesmo que noutra direcção.
Já o talvez desafia-me, atiça-me, motiva-me. Saber que talvez possa ir por ali, ou por acolá... saber que talvez possa chegar onde quero... que talvez possa ser, sentir, viver o que desejo... deixa-me inquieta, ansiosa e desperta em mim uma teimosia sem limites.
O talvez incomoda, enerva, fervilha... mas tem um gosto doce de possibilidade, que só perderá ao transformar-se num não.
Mas o quase... deixa uma sensação de vazio. Vazio de algo que esteve próximo, mas não chegou a estar.
É um talvez que deixou de o ser, mas que nunca chegou a ser não. É um livro que perdi, sem ter acabado de ler.
Dizer que se esteve "quase a.." poderá parecer reconfortante. Afinal, significa que tentámos, que fizemos alguma coisa e que quase conseguimos. Não foi uma derrota imediata. Tivemos possibilidade e estivemos quase lá.
Quase... mas não chegámos a estar.
Não gosto dos quases que existem na minha vida. Não me libertam. Não me reconfortam. Pelo contrário, transformam tudo o que esteve quase... em quase nada.