Publicidade e Arte
Meio zonzo, ligo o computador. Enquanto ele se instala, os meus olhos lutam por vencer a luz do sol que já inundou o escritório. Meto a ****** e o Gmail avisa que tenho quatro novas mensagens. Sobre as duas primeiras:
Trata-se dum filme publicitário a “Móveis para divorciadas”, duma reputada marca. Práticos e modernos, com dupla função, respondem a uma crescente faixa de mercado. Para elas, as instruções mais parecem um mapa de estradas em obras e, ainda por cima (e debaixo), sem a ferramenta necessária, não vão longe. Logo, imagino que o tipo metido no gavetão seja um “amigo com jeito para montagens” e naquele fim-de-semana foi lá, apenas, “dar uma mãozinha” mas não vai ser apresentado aos filhos dela que, entretanto, regressam de casa do pai.
Elas separam-se e depois desenrascam-se como podem. Sabem do lugar das coisas e da sua função mas, sózinhas, não dão conta do serviço. O meu apoio.
Arte nua e crua
Sempre achei que Serralves (com pena minha) ficava no Cu de Judas. Afinal parece que é ao contrário. Bem longe de Cascais.
Mal abri o mail, dei de caras com o dito cujo!
No momento senti-me incomodado, enojado e, de algum modo, violado na minha integridade. Com que lata o artista ousou expôr aquele ponto de vista e qual a motivação de quem lhe abriu as portas (das trás?) de tão distinto museu?
É preciso arrojo, numa grande dose de descaramento, para alguém exibir o orifício traseiro numa demonstração pública de falta de pudor. Não há tela que aguente e se sujeite ao prazer dum analfóbico que nela resolveu esfregar o ávido pincel. Com tal destino nem o cavalete lhe valeu.
Fiquei a matutar na busca de um ponto de vista mais condescendente. A cultura acima de tudo. Embora não ponha lá os cotos, admito já ter visto coisas piores em lugares mais famosos e também bem frequentados. Já vi sangue e dor, retratados por famosos, com direito a prémios. Nada contra desde que esse dinheiro fosse para os vitimizados modelos e para minimizar ou acabar com as guerras, as doenças e a fome que os perseguem. Sou apreciador do erotismo e de todas as artes que o exprimam. As mãos, os olhos, o nariz, os lábios e a língua são pedaços de nós e dum todo atreito a afectos e emoções.
Sujeito a reacções, pode um buraco suscitar diversas opiniões. Para mim um buraco “é nada com uma coisa à volta”, daí eu não dar, sequer, cinco tostões por muitas “obras” feitas sem coisa nenhuma. Se o objectivo é passar mensagens, façam-no ao vivo em sítios com mais gente.