domingo, junho 24, 2007

O Meu Olhar Sobre o Mundo


Like a Summer in Paris... at night
Far away from all my worries... I can live again
Far away from the cool... I run away... to Paris
And in your arms, I forget myself... all night long

Summer in Paris...
Like a Summer in Paris... at night
A sublime desire of a Summer in Paris
I miss that kiss...
On Summer in Paris...


fotografia: Å®t Øf £övë
música: Summer in Paris

sábado, junho 23, 2007

A mulher que oferecia pedras

“Nunca escreveu cartas de amor. A mulher, que também poupava palavras, não deixou nunca de lembrança escritos de amor a ninguém. Não porque não o sentisse, apenas não o escrevia. Por que haveria de o fazer? Quando amava alguém, estivesse essa pessoa perto ou distante, oferecia pedras. Não eram preciosas, senão para ela. Pedras normais. Podia recolhê-las na praia, numa serra, na rua. Podiam ser brita, pedras cristalinas, calcárias, pirites, quartziticas... Podiam ser ovais, macias, rugosas, redondas... um cubo tosco da pedra de calçada. Eram sempre diferentes. Todos os seus amantes tinham uma pedra sua. Só uma, que a mulher nunca foi de excessos. Afinal, bastava dizer uma vez que os amava. Mesmo as cartas de amor não são tão frequentes. Na pedra estava tudo o que sentia.
Um dia a mulher morreu. No seu funeral reuniram-se os amantes. Cada um com a sua pedra. Não era algo que não guardassem. Não se rasga como se faz com uma carta de amor. E nunca levariam consigo uma carta de amor, já a pedra...
Ao encontrarem-se não evitaram a comparação. Não seria por isso que as teriam levado? Qual seria a mais bonita. A mais rara. A de mais valor. Qual mostraria uma maior indiferença. Não contava ali a duração da relação. Nem tão pouco as relações que implicaram uma vida a dois. Apenas as pedras. Uma pedra pequena, branca, igual a tantas outras em qualquer praia, só poderia significar desdém. A pedra-pomes valeria mais do que o granito comum? Um deles garantia que a sua pedra oval de um esverdeado transparente era, sem dúvida, rara. Se as cartas de amor que, a cada altura e para cada pessoa, são escritas com a mesma verdade, beleza e intensidade, porque não poderiam ser as pedras iguais? Cada uma, única. Cada uma bela. Cada uma amável. Cada uma, a seu tempo, no seu tempo, especial. Mas para eles, que se exaltavam já, tinha de haver uma hierarquia. A mulher diria, como Angel Cabeza, ao vê-los, se os visse “Os homens sofrem como as pedras: cheios de musgo verde e caras feias”.
Um dos amantes esteve sempre em silêncio. A sua pedra, a mais pequena, que fechava na sua mão, tinha escrito o nome da mulher. Sorriu. Foi embora. Nada disse, como a pedra, que nada dizendo, disse-o.”

Voz que se cala

Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...

(Florbela Espanca)

segunda-feira, junho 18, 2007

Com pouco... se diz muito...

"A infelicidade é não saber o que se quer
e fazer um esforço enorme para consegui-lo"

sexta-feira, junho 15, 2007

like a dream

No silêncio da noite sentiu a memória tocar-lhe os lábios.

Num tempo fugaz. Efémero. Mordaz.

De mãos aveludadas percorreu-lhe o corpo, em doces palavras murmuradas. Caladas. Consentidas.

Vibrou ao orgasmo duma lua ofuscada.

Sensações encontradas, apanhadas, guardadas numa ansiedade violada.

No calor do abraço roubou-lhe o beijo, o fôlego e a paixão.

Num tempo curto, demasiado curto de tão longo, permitiu-se viver, reviver, cansar-se, atordoar-se, esgotar-se.

Revolveu-se. Revoltou-se.

Escutou. Indagou. Protestou. Consumou.

Na calada da noite, num momento fugaz, efémero, mordaz, o medo possuiu-se. O pânico emulou-se, o silêncio calou-se e o tempo... adormeceu.


quarta-feira, junho 13, 2007

O meu "Pedaço" # 14

Não compreendo as mulheres que choram a qualquer momento por tudo e por nada... Irritam-me... porque parece que vertem lágrimas como se estivessem a fazer chichi.
Ao menos eu, quando sinto vontade de chorar, finjo que estou com um aperto, vou à casa de banho e abro as torneiras para molhar a cara.
Não pensem que sou contra o choro. Não, nada disso, até porque as lágrimas nas mulheres... refrescam-me... levantam-me a moral... e às vezes até lhes lambo os cantos dos olhos... a mim sabe-me como beber umas caipirinhas... só que sem álcool... inteiramente naturais!!!
Quando digo "não chores" funciona sempre, porque só de mencionar o verbo "chorar" emociona-as, e liberta-as para chorarem ainda mais!!!
Só intervenho com palavras de esperança, e de amor quando elas vão longe de mais e começam a pingar do nariz.
As mulheres depois de chorar ficam quase sempre com vontade de fazer amor. É como se apanhassem uma chuvada... ficam todas molhadas... e eu funciono como a toalha que está mais à mão...
E as que choram depois de fazerem amor? Estarão assim tão arrependidas? Comovidas? Simplesmente agradecidas?
Gostaria de pensar que sim... de preferência as três coisas ao mesmo tempo... mas a verdade é que nem elas próprias sabem!!!
Riem-se logo de seguida... mas as piores são as que se riem logo ao princípio... mas a verdade é que as piores também são as mais queridas...
É horrível, não é?
Mas só um santo é que não se aproveitaria...

domingo, junho 10, 2007

A Idade do Silêncio

A primeira linguagem que os humanos tiveram foi os gestos. Não havia nada de primitivo nesta língua que brotava das mãos das pessoas, nada que hoje se diga que não pudesse ser dito nesse imenso rol de movimentos possíveis com os ossos finos das mãos e dos dedos. Os gestos eram complexos e subtis, envolvendo uma delicadeza de movimentos que se perdeu completamente desde então.
Durante a Idade do Silêncio, as pessoas comunicavam mais, e não menos. As necessidades de sobrevivência exigiam que as mãos quase nunca estivessem paradas, e a única altura em que as pessoas não estavam a dizer isto ou aquilo (e por vezes nem aí) era quando estavam a dormir. Não havia qualquer distinção entre os gestos da linguagem e os gestos da vida. A acção de construir uma casa, por exemplo, ou de preparar uma refeição, exprimia tanto como fazer o gesto para dizer, Eu Amo-te ou Sinto-me sério. Quando uma mão era usada para esconder uma cara assustada por um ruído violento, isso era dizer alguma coisa; e quando os dedos das mãos eram usados para apanhar alguma coisa que alguém deixara cair no chão, também aí, algo estava a ser dito. Naturalmente, também havia mal-entendidos. Por vezes, um dedo podia ser erguido apenas para coçar o nariz, e no caso de haver um contacto visual fortuito com um amante nesse preciso momento, então o nosso amante poderia tomar acidentalmente esse gesto, em tudo idêntico, ao que usaríamos para dizer, Agora percebo que fiz mal em amar-te. Estes mal-entendidos eram de partir o coração. No entanto, como as pessoas sabiam como era fácil eles acontecerem, como não viviam na ilusão de se entenderem perfeitamente umas às outras, estavam habituadas a interromper-se umas às outras para perguntar se tinham entendido bem. Às vezes estes mal-entendidos eram até desejáveis, pois davam às pessoas o ensejo de dizer Desculpa, estava só a coçar o nariz. Claro que sei que fiz bem em amar-te. Devido à frequência destes erros, com o tempo o gesto para pedir perdão evoluiu para a forma mais simples. O simples gesto de abrir a palma da mão passou a querer dizer: perdoa-me.
Tirando uma excepção, praticamente não existe nenhum registo desta linguagem primeira. A excepção, na qual se baseia todo o conhecimento sobre o assunto, é uma colecção de setenta e nove gestos fossilizados, impressões de mãos humanas congeladas a meio das frases, conservadas num pequeno museu em Buenos Aires. Uma delas representa o gesto para Às vezes quando a chuva, outra para Ao fim destes anos todos, e outra para Terei feito bem em te amar?
Se em grandes reuniões ou festas, rodeados de pessoas de quem nos sentimos distantes, sentimos por vezes as nossas mãos pender desajeitadamente na ponta dos braços – se não sabemos bem o que fazer com elas, possuídos pela tristeza que sobrevém quando reconhecemos a estranheza do nosso próprio corpo – é porque as nossas mãos têm memória de um tempo em que a divisão entre corpo e mente, cérebro e coração, o que está dentro e o que está fora, era muito menor. Não é que nos tenhamos esquecido da linguagem dos gestos por completo. O hábito de movermos as nossas mãos enquanto falamos ficou-nos desse tempo. Bater palmas, apontar com o dedo, esticar o polegar para cima: são tudo artefactos de gestos antigos. Dar as mãos, por exemplo, é uma forma de relembrarmos a sensação de estarmos juntos sem dizer nada. E à noite, quando a escuridão já não nos deixa ver, sentimos a necessidade de gesticular uns aos outros para nos fazermos entender.

quarta-feira, junho 06, 2007

Be happy

Felicidade é olhar para trás e acreditar,
que ainda assim, tudo valeu a pena!

sábado, junho 02, 2007

A idade do fio

Há tantas palavras que se perdem. Mal saem da boca perdem a coragem, errando objectivos até serem engolidas pela valeta como folhas secas.
Houve um tempo em que não era invulgar usar-se um bocado de fio para orientar as palavras que de outro modo poderiam perder-se pelo caminho e não chegar aos seus destinos. As pessoas tímidas traziam pequenos novelos de fio nos bolsos, mas considerava-se que os palradores também necessitavam deles, pois quem estava habituado a fazer-se ouvir inadvertidamente por toda a gente sentia por vezes dificuldade em ser escutado. A distância física entre as pessoas que usavam os fios podia ser muito pequena; por vezes, quanto menor era a distância, mais o fio era necessário.
A prática de atar copos à ponta dos fios veio muito mais tarde. Há quem diga que esta está relacionada com a necessidade irreprimível de levarmos conchas aos ouvidos, de ouvirmos o eco que ainda subsiste da expressão primordial do mundo. Outros dizem que foi iniciada por um homem que guardou a ponta de um novelo que se foi desenrolando através do oceano por uma rapariga que partiu.
Quando o mundo se tornou maior, e já não havia fio suficiente para impedir que desaparecessem na imensidão do mundo as coisas que as pessoas queriam dizer, foi inventado o telefone.
Às vezes não há fio que seja suficientemente comprido para dizer aquilo que é preciso dizer. Em tais casos a única coisa que o fio pode fazer, qualquer que seja a sua forma, é conduzir o silêncio de uma pessoa...