quarta-feira, outubro 31, 2007

Falar do quê?

Há momentos em que não nos apetece falar, basta-nos estarmos presentes. Partilhamos um espaço e um tempo, tal como a visão duma paisagem ou dum filme numa sala cinema. Podemos beijar, deixar nossa mão noutra mão e trocar um olhar, sem que as palavras façam falta. O silêncio supera-se, dá força e lugar a outros sentidos que nos envolvem. Sentimos quando as palavras são desnecessárias, bastando a insinuação dos gestos que se magnetizam por indução.

A memória é mais fiel à imagem do que à palavra. O passado é uma projecção de slides, ao som das músicas que o preencheram, com algumas palavras e frases soltas. Guardamos fotos e poucas legendas. Há quem tenha o seu "Diário" e nele descreva as imagens de cada dia. Reza o ditado: "uma imagem vale por mil palavras". Cada um de nós tem o seu próprio registo. Único.

Cuido de escrever sobre o tudo o que me vem à tona com o rigor da minha objectiva. A memória é algo de tão extraordinário comparável à visão, mas em sentido contrário: vê para dentro.

domingo, outubro 28, 2007

Aquela música...

Quantos de nós já não esteve num lugar em que de repente se está a ouvir uma música e pensa de quem será a música?
Talvez porque a melodia nos diz algo, ou até porque a letra tem algum significado para nós...
Pois foi isso que me aconteceu ontem... e como tal gostava de partilhar aquela música que despertou a minha atenção...


Ivete Sangalo - Quando A Chuva Passar

Pra quê falar
Se você não quer me ouvir?
Fugir agora não resolve nada

Mas não vou chorar
Se você quiser partir
Às vezes a distância ajuda

E essa tempestade um dia vai acabar
Só quero te lembrar
De quando a gente andava nas estrelas
Nas horas lindas que passamos juntos
A gente só queria amar e amar e hoje eu tenho certeza

A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar

Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu infinito
E o meu amor é imensidão

Só quero te lembrar
De quando a gente andava nas estrelas
Nas horas lindas que passamos juntos
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza
A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar

sexta-feira, outubro 26, 2007

Pedaços de Uma História


"Há histórias que já começam com um final escrito. São obras fechadas, caminhos traçados. Não adianta querer pintá-las com as cores que mais gostamos ou desejar que o tempo possa mudar o seu rumo. Elas são assim... inalteráveis"
("Páginas ao Vento" publicado a 19 de Março de 2007)
Inalteráveis? Que sabia eu?! A vida mostrou-me que não existem finais escritos.
Como diz o meu amigo Pedro Arunca , "cada dia que passa é uma página do livro que nos compete escrever". E eu escrevi. Escolhi o tipo de papel mais macio que encontrei, peguei na lapiseira que melhor se moldava á minha mão e soltei as palavras que bem entendi. Fui escrevendo, capítulo a capítulo, ao sabor do meu desejo... a história que, um dia, julguei estar terminada. Não estava. E hoje sei...
Não foi um caminho fácil... e tantas vezes quase desisti. Quase.
"Não gosto dos quases que existem na minha vida. Não me libertam. Não me reconfortam. Pelo contrário, transformam tudo o que esteve quase... em quase nada."
( "Quase" publicado a 8 de Julho de 2007)
Corrijo. Gosto deste quase. Dizer que quase desisti, significa que não o fiz. Significa que transformei toda a minha história num desafiante talvez. Talvez tenha sido a minha teimosia, talvez a minha força, talvez até atrevimento... ou, quem sabe, talvez tenha sido apenas o saber esperar que o tempo mudasse o seu rumo.
"E que tempo é este? Amigo? Perdido? Nosso? Ou apenas meu?"
("Tempo" publicado a 12 de Dezembro de 2006)
Era o tempo que eu precisava para chegar aqui. Era o tempo que tu precisavas para saberes onde querias chegar.
Era um tempo amigo... jamais perdido... meu, teu... e sem dúvida, NOSSO.

terça-feira, outubro 16, 2007

O Meu Olhar Sobre o Mundo

Melgaço é uma cidade linda, apesar de pequena, com pessoas simpáticas, onde a beleza das paisagens e a magnitude da natureza se mostram vestidas de tonalidades que preencheriam a mais completa palete de cores.



Conta-me histórias, de tempos, a que eu gostaria de voltar
Tenho saudades, de momentos, que nunca mais vou encontrar
A vida talvez seja só três dias
E eu quero andar sempre devagar, até a ti chegar...


fotografia: Å®t Øf £övë
música: Ninguém (é de ninguém)

segunda-feira, outubro 15, 2007

Like a dream

Não era para ser, mas foi...

Não era para sentir, mas sentiu...

Não era para acontecer, mas aconteceu...

Angústia? Alguma... Receio? Muito... Felicidade? Sempre...

Retroceder? Impossível...

Avançar? Talvez...

Insegurança? Um pouco...


A noite brilhava por entre o escuro. As memórias que não identificava misturavam-se nas recordações sobrantes. Ora se encolhia de medo, ora sorria deliciada. Virava-se, revirava-se, revoltava-se... contorcia-se... alucinada...

Olhou-o. Sem encontrar o seu corpo, viu-o, sentiu-o, ouviu-o, sorriu... sem ansia, sem medos, sem certezas nem interrogações, tranquilizou-se a si mesma num sono prolongado como um beijo demorado. O dele.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Consumo

Recebi a conta da EDP. Digo já, não sou daqueles que telefona a dizer a quanto vai o contador da minha casa, e sou sincero, prefiro nem saber.
E acho que deve ser assim, não quero saber o quanto gasto de energia.
Se eu, um dia, tivesse um contador no meu corpo, podia controlar perfeitamente os meus consumos, provavelmente até entrar numa de poupança... mas não, não quero, não faço leituras, não as dou a ninguém, não sei o quanto estou a gastar, nem quanto vou pagar no final.
Nas emoções sou mesmo um gastador, e sabem porquê? Vivo um dia de cada vez, e acreditem que vivo mesmo.

"Ninguém é tão velho que não possa viver mais um ano,
Nem ninguém é tão novo que não possa morrer já"

quinta-feira, outubro 11, 2007

Um Sorriso / Uma Viagem pela Alma

Liberta-te…
Passeia agora bem no fundo de tua alma, sente a vibração que o amor te entrega. Vagueia chafurdando nos sentidos, percorre a fundo a estrada que te leva até ao Nirvana…

Liberta-te…

Solta bem alto esse grito da alma, esse teu inconfundível sorriso, és livre agora, és cada vez mais apenas tu…

Vagueia…

Olha para o céu abrindo os braços, sente o conforto que a vida te traz, o calor que o sol te oferece…

Olha para mim e escuta, apenas escuta…

Por vezes a nossa vida mais parece um deserto melancólico, percorrido entre as areias de tristeza e monotonia por nós criadas, por outros criadas ou simplesmente criadas ao acaso do vento. Mais parece não haver saída, entre a espada e o frio da parede um dia acabamos por acordar, porquê? Fiz algo de mal? A vida é mesmo assim e pronto! Nada mais há por explicar. Até que um dia vemos um sorriso! Um simples e profundo sorriso, um olhar, um olhar profundo que entra bem no fundo de nós e vasculha o nosso coração e a nossa alma. É então que acabamos por descobrir que afinal aquelas melancólicas areias que percorremos no nosso próprio deserto, existe afinal um brilho bonito, um arco-íris de cores que nos fazem sorrir sonhar voar, e é mesmo nesse preciso momento que sentimos que afinal naquele deserto existe uma brisa fresca que nos refresca a alma, e se continuarmos a procurar quase de certeza que vamos encontrar uma queda de água que nos vai matar a sede e nos vai fazer cantar e voltar a sorrir, e quando menos esperarmos vamos começar a ver no horizonte um raio de luz a nascer, um raio de luz que nos rasga a tristeza, uma luz tão forte que atravessa as areias e as faz brilhar, a água passa então a luzir pequenas gotinhas de cores maravilhosas, e lá no fundo mas bem no fundo começamos a ouvir a musica que a brisa nos traz…

Ao som de "Shine On You Crazy Diamond" dos Pink Floyd

segunda-feira, outubro 08, 2007

O meu "Pedaço" # 15

Não me adianta procurar, porque não existem livros para homens que sejam pais... nem na secção de ciências ocultas.
Depois do bebé nascer deixamos de fazer parte da equação natural.
Não se trata de uma conspiração. As mulheres até tentam manter os homens dentro da equação. O problema é que nós não sabemos como nos manter maternos.
Seremos homens capazes de inventar um complexo químico qualquer que nos permita manter integrados neste acto solene de paternidade sem bocejar?
Porque raio ninguém até hoje criou um código de conduta que discipline a actuação do homem numa família?
Talvez seja porque o pai é apenas o selvagem num meio que exige harmonia e paz.
Eu disse... apenas?
Isso já me parece imenso...

domingo, outubro 07, 2007

Viagem


Existem lugares que marcam a nossa vida. São lugares cheios... não cheios de gente, mas cheios de nós.

São lugares que contam a nossa história, sussurram-nos lembranças, gritam os nossos segredos. Guardam em cada parede um olhar, em cada canto uma lágrima, em cada objecto um sorriso. São lugares que nos queimam por dentro e nos roubam a alma por instantes.
Fazem-nos viajar a recantos de nós que julgávamos não mais existirem. Ressuscitam emoções que um dia quisemos deixar morrer.
Voltei a um desses lugares... onde tantas vezes me perdi de mim mesma, e onde tantas outras me encontrei. Onde o tempo parava para me ouvir gritar sentimentos em silêncio... embalados por uma música cuja letra contava uma história igual á minha.
Voltei e revi-me... revi-me em cada canto, em cada objecto, em cada palavra. Senti na pele o calor das noites sem fim e na boca o doce amargo sabor de cada momento ali vivido.

Saí de mim mesma e deixei-me ir... como quem vai em busca de uma qualquer resposta, supostamente deixada ao acaso num dos cantos daquele lugar. Deixei-me novamente embalar pelas velhas musicas que ainda contam a mesma história. Uma história que ainda é a minha.

Esqueci quem sou e procurei quem fui. Viajei por mim mesma e reencontrei caminhos já esquecidos. Caminhos que ficaram ali guardados, sem nunca levarem a lugar nenhum...
Chegada a hora de ir embora, voltei a mim. Despedi-me de quem fui e abracei quem sou. Deixei que cada refrão me contasse uma história diferente daquela que foi a minha... talvez a que ainda quero viver.

Devolvi cada emoção a cada parede, a cada canto, a cada objecto ... e, lançando-lhes um último olhar á saída, pedi-lhes baixinho que continuassem a guardar as minhas lembranças, para nelas seguir viagem sempre que me apetecer ali voltar.