segunda-feira, agosto 27, 2007

Talvez um dia...


Sim, talvez um dia me dispa de preconceitos e venha a publico admitir as variações das ondas P da minha caixa de fusíveis. Quem sabe nesse dia, talvez me solte das falas mansas e discurse os sentimentos em uma só voz de comando. Mande uns quantos gritos de revolta em torno deste nosso sentimento, que nos empurra a alma para o charco. E quem sabe, talvez nesse dia acabe de vez com este nosso estranho fado que nos obriga a gostar de estar na merda.
Talvez quem sabe um dia…
Assuma de uma vez por todas este meu movimento Narcisista, esta minha estranha forma de me sentir bem. Talvez nesse dia venha a descobrir que não faço suspirar todas as mulheres que se atravessam em meu passeio, que afinal não me observam atentamente enquanto desço a calçada em suaves passos de estilo.
Quem sabe talvez um dia…
Venha mesmo a descobrir a combinação secreta, que abre esse teu coração escondido na dor. Talvez nesse dia te assalte a alma e te roube esse teu sentimento de imponência, que te rasga o sorriso em cada passo teu, em cada momento em que me dizes que não.

Quem sabe…

Talvez um dia…

Venhas a entender a dor que me percorre a alma…

O amor que me assola os sentidos

A raiva que me rasga o coração

Quem sabe talvez um dia...

sábado, agosto 18, 2007

Love or sex?

Gosto tanto de ouvir-te como de tocar-te.
Só depende do momento.
Quando os dois momentos são um só, fica perfeito.
E então, gosto de olhar-te,
Enquanto te cheiro
E perco-me a sentir-te...

sábado, agosto 11, 2007

Nada Vence as Paixões Profundas de Cada Um

As paixões opõem-se às paixões, e podem servir de contrapeso umas às outras; mas a paixão dominante não se pode conduzir senão pelo seu próprio interesse, real ou imaginário, porque ela reina despoticamente sobre a vontade, sem a qual nada se pode. Contemplo humanamente as coisas, e acrescento nes­se espírito: nem todo o alimento é próprio para todos os cor­pos; nem todos os objectos são suficientes para tocar deter­minadas almas. Quem acredita serem os homens árbitros soberanos dos seus sentimentos não conhece a natureza; consiga-se que um surdo se divirta com os sons encantado­res de Mureti, peça-se a uma jogadora, que está a jogar uma grande partida, que tenha a complacência e a sabedo­ria de se enfadar durante a mesma, nenhuma arte pode fazê-lo.
Os sábios enganam-se quando oferecem a paz às paixões: as paixões são inimigas dela. Eles elogiam a mo­deração para aqueles que nasceram para a acção e para uma vida agitada; que importa a um homem doente a delicadeza de um festim que lhe repugna? Nós não conhecemos os defeitos de nossa alma; mas ainda que pudéssemos conhecê-los, raramente havería­mos de os querer vencer.
As nossas paixões não são distintas de nós mesmos; al­gumas delas são todo o fundamento e toda a substância da nossa alma. O mais fraco dos seres iria querer perecer para se ver substituído pelo mais sábio? Dêem-me um es­pírito mais justo, mais amável, mais penetrante, aceito com alegria todos esses dons; mas se me tiram também a alma que deve desfrutar dele, esses presentes não são nada pa­ra mim.
Isso não dispensa ninguém de combater os seus hábitos e não deve inspirar aos homens nem abatimento nem tristeza. (...) A virtude sincera não abandona os seus amantes; os próprios vícios de um homem bem-nascido podem passar a contribuir para a sua glória.

Luc de Clapiers Vauvenargues, in 'Das Leis do Espírito'