segunda-feira, maio 31, 2010

Os insuportáveis

Há alturas em que penso por que motivo temos de nos cruzar na vida com uns idiotas que nos saem na rifa.
Irritam-me pessoas que, sob uma capa de tolerância, respeito, conversa de chacha q.b., só estão bem se a sua vontade se impuser à dos outros. Mas tudo em nome do respeito mútuo, pois claro!
Claro que eles imporem a sua vontade aos outros não é uma violência. É um direito. Eles têm direitos. Os outros é que são intolerantes com tamanha grandiosidade de espírito.
Falam, repetem tudo vezes sem conta, são palavrosos, não deixam ninguém falar. Mas tudo em nome da tolerância e do respeito mútuo, pois claro!
Não ouvem os outros, não os deixam articular uma frase com princípio, meio e fim. Se se lhes chama a atenção para isto, respondem que não são precisos formalismos. Pois claro!
Apenas têm o seu umbigo por amigo. Nem sei se se pode dizer que são arrogantes. São apenas egoístas insuportáveis.
Santa paciência!
Vade retro!

quarta-feira, maio 19, 2010

Cumplicidade

Irrita-me o tom desse teu “bom dia", sempre tão cheio de certeza de que é o bastante para que eu deixe escapar um sorriso assim que o recebo, pela manhã. Irrita-me essa tua mania de continuares a querer partilhar comigo o quanto o almoço te está a saber bem, ou o quanto estás farto dessa reunião infindável. Irrita-me quando me dizes, a meio da tarde, que estás a passar naquela rua onde fica aquele restaurante onde costumávamos jantar. Irrita-me quando fazes questão de me contar como correu a consulta que tiveste por causa da unha encravada do dedo mindinho da mão direita. Irrita-me aquela mensagem que me envias a avisar que está a dar o filme que eu gosto no canal X, ou que finalmente encontraste aquele dvd que procurei durante tanto tempo.

Irrita-me que conheças de cor os meus hábitos e faças questão de mo lembrar com um ruídoso "acorda, tens de ir jantar!" lançado pelo msn, ao fim da tarde. Irrita-me quando me vens perguntar qual o melhor detergente para meter na máquina de lavar roupa e quanto tempo demora a carne a descongelar no microondas. Irrita-me quando às seis da manha me dizes que acabaste de chegar de uma noitada e vais dormir, despedindo-te com um “até amanhã” cheio de convicção de que “amanhã” nos falaremos de novo. Irrita-me quando comentas que foste lá fora dar comida aos cães e reparaste na enorme Lua Cheia que está lá em cima. E irrita-me saber que sabes que também reparei nela. Irrita-me quando completas as minhas frases, antecipas as minhas respostas e adivinhas as minhas reacções, e nem pões a hipótese de teres errado em qualquer uma delas. E irrita-me perceber que, na verdade, nunca erras em nenhuma.

Irrita-me que ainda saibas tanto de mim e faças questão de o mostrar todos os dias, ao longo do dia, e que insistas em manter os nossos hábitos, como se eles ainda fossem realmente nossos. Irrita-me esta cumplicidade que não deixas quebrar, cheio de certeza de que vamos estar sempre aqui à distancia de um “vamos lá pôr o orgulho de lado”.

E irrita-me saber que sabes que, mesmo em silêncio, concordo contigo.