domingo, dezembro 18, 2005

O segredo da amizade

O Principezinho de Antoine de Saint-Exupéry

É um cântico à amizade e à camaradagem e mostra-nos como se constrói um laço de amor.
Como explica a raposa, a amizade consiste no paciente processo de aprendizagem progressiva e na descoberta recíproca da confiança que acontece quando dois seres são «cativados» um pelo outro.

Deixar um “pedaço de mim” sem mencionar este livro que me acompanhou ao longo de toda a minha vida, e me fez crescer como ser humano, não seria efectivamente dar-vos um pouco de mim.
E, como pretendemos que o elo que nos liga, aqui no “Pedaços de Nós”, seja a amizade…
Transcrevo o episódio da raposa, excerto que nos fala do verdadeiro significado desta palavra.

“-Quem és tu? - Perguntou a principezinho - És bem linda…
- Sou uma raposa - disse a raposa.
-Vem brincar comigo - disse o principezinho - Estou tão triste…
-Não posso brincar contigo - disse a raposa - Ainda ninguém me cativou.

- O que quer dizer «cativar»?

- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa - Significa «criar laços…».
- Criar laços?
- Isso mesmo - disse a raposa - Para mim não passas ainda de um rapazinho muito parecido com cem mil rapazinhos. E não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Para ti sou apenas uma raposa semelhante a cem mil raposas. Mas, se me cativares, teremos necessidade um do outro. Para mim serás único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
- Começo a compreender - disse o principezinho - Há uma flor… creio que ela me cativou…
… se me cativares a minha vida ficará como que iluminada pelo sol. Conhecerei um ruído de passos que será diferente de todos os outros. Os outros passos fazem-me meter debaixo da terra. Os teus, chamar-me-ão para fora da toca como uma música. E além disso, olha! Vês, além, os campos de trigo? Não me alimento de pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado! O trigo, que é dourado, far-me-á lembrar de ti. E amarei o som do vento no trigo…
- Só se conhecem as coisas que se cativam - disse a raposa - Os homens já não têm tempo para conhecer o que quer que seja… Se queres ter um amigo, cativa-me!
- O que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É necessário ser paciente - respondeu a raposa. Sentas-te primeiro um pouco longe de mim, assim, na erva. Eu olhar-te-ei pelo canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é fonte de mal-entendidos…
Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da partida:
- Ah! - disse a raposa… Vou chorar.
- A culpa é tua - disse o principezinho, eu não queria que te acontecesse nada de mal, mas quiseste que te cativasse…
- É certo - disse a raposa.
- Mas vais chorar! - disse o principezinho.
- Vou - disse a raposa.
- Então não ganhas nada com isso!
- Ganho - disse a raposa - por causa da cor do trigo.
Depois acrescentou:
- Vais olhar outra vez as rosas. Compreenderás que a tua é única no mundo. Voltarás para me dizer adeus e eu faço-te presente de um segredo.
O principezinho foi ver outra vez as rosas.
- Não são de modo nenhum parecidas com a minha rosa, ainda não são nada, disse-lhes ele. Ninguém vos cativou e vocês não cativaram ninguém. São como era a minha raposa. Era uma raposa parecida com cem mil outras. Mas fiz dela minha amiga e agora ela é única no mundo.
E voltou para junto da raposa:
- Adeus, disse…
- Adeus - disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se pode ver bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho de modo a poder recordar-se.
- É o tempo que perdeste com a tua rosa que torna a tua rosa tão importante.
Os homens esqueceram esta verdade - disse a raposa - Mas tu não deves esquecer-te.
Tornaste-te para sempre responsável por aquilo que cativaste. Tu és responsável pela tua rosa…
- Sou o responsável pela minha rosa… - repetiu o principezinho, para se recordar.”

3 comentários:

Dulce Gabriel disse...

Minha querida.Adorei o teu post.O principezinho é uma obra que também me marcou nos meus tempos de menina.Adorei recordá-la.Acabas de me dar uma boa ideia para mais uma lembrança de Natal para um amigo que tem marcado muito os meus dias andados.Talvez ele não conheça.Se conhecer também não faz mal,o livro vai ajudá-lo a entender a força e reciprocidade de uma relação de amizade.A sério,obrigada pela tua lembrança,sentida.Xi-coração.

Å®t Øf £övë disse...

Nefertiti,
O principezinho também faz parte das minhas recordações, e do meu imaginário da juventude.
Foi bom teres partilhado este pequeno excerto connosco, para que nós nos lembremos do essêncial da vida, e do que realmente é importante, e de como ela é feita de pequenas coisas, mas que podem ter um grande significado.
É bom quando relemos, e percebemos que a vida pode ser simples e tão pura.
Boa semana.
Beijinhos.

Carlinha disse...

Nefertiti,
Parabéns pela escolha do texto. Também eu adoro "O principezinho".
Todos devíamos seguir o exemplo da raposa e seríamos todos melhores pessoas.