sexta-feira, julho 21, 2006

Sem ilusões...

"Não é raro ouvirmos falar sobre histórias de amor mal resolvidas. São aquelas relações que, por qualquer motivo, não deram certo, terminaram, as partes separaram-se, cada um foi para seu lado.
A vida seguiu o seu curso, apaixonaram-se novamente, sofreram mais uma vez – ou muitas – eventualmente casaram-se, tiveram filhos, viveram coisas totalmente paralelas. Mas a história está lá, no que eu chamo de “ canto escuro do coração”. Uma vez ou outra – geralmente quando a vida está destemperada – abrem os seus “baús de recordações” e dão de cara com ela: a história mal resolvida, o conto de fadas que não se realizou.
Então fantasiam um romance perfeito.
Esquecem o que os fez romper, deixando para trás aquela pessoa. De repente, ela é o parceiro ideal.
Na imaginação fugaz, não tem defeitos, não envelheceu, jamais errou: virou um ser etéreo, personagem de uma memória que só abarca o sonho.
Dentro desse cenário “o que não foi” é o que realmente incomoda. E cria corpo. O “como teria sido se…” começa a andar ao encalço quando se rejeita a realidade: ele agiganta-se e toma o leme. As rédeas de duas vidas – ou mais – correm o risco de pararem nas mãos de um destino inventado.
Estou a escrever sobre isso porque conheço algumas histórias assim – com frequência nos últimos meses. O mundo parece que tem febres e esta deve ser uma delas nesta temporada: tentar recomeços – tu também deves conhecer casos sobre o empenho em reconquistar os/as ex.
Os envolvidos dizem que estão “tatuados” por aquele amor e que, mesmo que o esqueçam, o superam, o deixam para lá, a “tatuagem” os chama de volta. Então, correm atrás do “tempo perdido”, tentando recuperar o tempo e o amor, com uma força de vontade e espírito surpreendentes.
Infelizmente, raramente dá certo. Na ânsia de uma re–união – quase impossível, eu diria – esquecem de avaliar quem é o outro depois que seguiu um caminho o qual eles não tiveram acesso. Esquecem, inclusive, que não são mais, eles mesmos, os mesmos de cinco, dez, quinze, vinte anos atrás.
Entretanto, não adianta alertar: precisam passar pela frustração para entender que alguns amores simplesmente têm dia e hora para acabar, e uma vez de frente a esse momento, murcham, morrem, extinguem-se. Deixam marcas, saudades, lembranças, mas não nos pertencem mais.
É pena que muita gente viva nesse círculo vicioso do irrecuperável, em tentativas vãs, que só causarão mais dor. Ao invés de irem em frente, pés no chão, preferem focar-se no devaneio louco que acabará por levá-las para dentro de si mesmas com a irremediável pergunta: “Que é que estou a fazer comigo?”
Eu tive sorte neste sentido: fechei todos os ciclos. Olho para as minhas histórias de amor com carinho junto a certeza de que elas foram vividas intensamente e ficaram onde devem ficar: no passado. Sem ilusões…"


Este texto estava, como tantos outros, guardado no meu baú de poemas, pensamentos, histórias, que pelos seus valores, literário, sentimental, …, recolho e guardo. Desconheço o seu autor, mas não pude deixar de o compartilhar.

1 comentário:

Å®t Øf £övë disse...

Nefertiti,
Muito bonito este texto que foste buscar ao teu baú de recordações!!!
E o tema então...
Hummm... amores impossíveis...
Todas as pessoas na vida têm pelo menos um amor impossível. Um caso antigo mal resolvido, uma paixão platónica, o primeiro namorado, a primeira rejeição... Todos temos...
Faz parte do nosso património afectivo. Pode ser insignificante, ou muito profundo.
Os amores impossíveis são encantadores, e o objecto desse amor é sempre uma pessoa igual a qualquer outra, cheia de defeitos, mas que aos nossos olhos é um ser perfeito, intocável e irresistível.
O nosso amor impossível é sempre a mais gira, aquela que tem mais charme, os olhos e o cabelo mais bonitos, o mais perfeito corpo... é sempre a mais sensual, e a que tem a melhor presença... a vestir ela é a que demonstra mais requinte, e quando fala, ai quando fala, tem o timbre inconfundível de voz que nós tanto amamos, usa as palavras como só ela sabe... e quando ri, então é como se o paraíso tivesse descido à terra e não existisse mais nada.
A maior parte das vezes, isto faz apenas parte do nosso imaginário e da nossa memória. E quando fechamos os olhos, ela diz-nos tudo aquilo que nós tanto gostaríamos de ouvir, e que provavelmente nunca lhe terá passado pela cabeça. Para nós, ela é o ser perfeito e intocável que o destino nos roubou.
São assim os amores impossíveis, e é insuportável vivê-los...
É claro que esses amores são impossíveis... porque sempre o foram... mas em vez de nos desmotivar, faz crescer em nós a vontade absurda e inesgotável de lutar por ele. Só porque o orgulho e a teimosia nos conduzem sempre cega e inutilmente a desejar sempre o que não temos.
Até que um dia a sorte muda, e voltamos a cruzar-nos com essa pessoa, e como não há fome que não dê em fartura... passamos a estar juntos de manhã, à tarde, e à noite, conversamos e olhámo-nos... e pouco a pouco o encanto quebra-se a cada defeito que nos salta escandalosamente à vista. Então enterramos os sonhos, e pouco ou nada resta. Às vezes fica uma boa amizade, e a consciência de termos sido tão ingenuamente enganados por nós próprios durante anos...

Beijinhos.