A idade do fio
Há tantas palavras que se perdem. Mal saem da boca perdem a coragem, errando objectivos até serem engolidas pela valeta como folhas secas.
Houve um tempo em que não era invulgar usar-se um bocado de fio para orientar as palavras que de outro modo poderiam perder-se pelo caminho e não chegar aos seus destinos. As pessoas tímidas traziam pequenos novelos de fio nos bolsos, mas considerava-se que os palradores também necessitavam deles, pois quem estava habituado a fazer-se ouvir inadvertidamente por toda a gente sentia por vezes dificuldade em ser escutado. A distância física entre as pessoas que usavam os fios podia ser muito pequena; por vezes, quanto menor era a distância, mais o fio era necessário.
A prática de atar copos à ponta dos fios veio muito mais tarde. Há quem diga que esta está relacionada com a necessidade irreprimível de levarmos conchas aos ouvidos, de ouvirmos o eco que ainda subsiste da expressão primordial do mundo. Outros dizem que foi iniciada por um homem que guardou a ponta de um novelo que se foi desenrolando através do oceano por uma rapariga que partiu.
Quando o mundo se tornou maior, e já não havia fio suficiente para impedir que desaparecessem na imensidão do mundo as coisas que as pessoas queriam dizer, foi inventado o telefone.
Às vezes não há fio que seja suficientemente comprido para dizer aquilo que é preciso dizer. Em tais casos a única coisa que o fio pode fazer, qualquer que seja a sua forma, é conduzir o silêncio de uma pessoa...
Houve um tempo em que não era invulgar usar-se um bocado de fio para orientar as palavras que de outro modo poderiam perder-se pelo caminho e não chegar aos seus destinos. As pessoas tímidas traziam pequenos novelos de fio nos bolsos, mas considerava-se que os palradores também necessitavam deles, pois quem estava habituado a fazer-se ouvir inadvertidamente por toda a gente sentia por vezes dificuldade em ser escutado. A distância física entre as pessoas que usavam os fios podia ser muito pequena; por vezes, quanto menor era a distância, mais o fio era necessário.
A prática de atar copos à ponta dos fios veio muito mais tarde. Há quem diga que esta está relacionada com a necessidade irreprimível de levarmos conchas aos ouvidos, de ouvirmos o eco que ainda subsiste da expressão primordial do mundo. Outros dizem que foi iniciada por um homem que guardou a ponta de um novelo que se foi desenrolando através do oceano por uma rapariga que partiu.
Quando o mundo se tornou maior, e já não havia fio suficiente para impedir que desaparecessem na imensidão do mundo as coisas que as pessoas queriam dizer, foi inventado o telefone.
Às vezes não há fio que seja suficientemente comprido para dizer aquilo que é preciso dizer. Em tais casos a única coisa que o fio pode fazer, qualquer que seja a sua forma, é conduzir o silêncio de uma pessoa...
2 comentários:
Nefertiti,
As pessoas não se esforçam, só falam aquilo que é estritamente necessário, o que a maioria das vezes é falarem sobre o que é superficial, só para não serem "apanhadas" nos seus sentimentos. Ouvem-nos na diagonal, e logo de seguida dão-nos uma palmadinha nas costas... e aqui vai disto... até amanhã que agora tenho mais o que fazer. Se nos ouvíssemos uns aos outros com maior atenção era bem melhor. Assim dispensávamos aqueles "força", ou "aguenta-te", ou ainda "o tempo cura tudo", etc, etc... Se nos ouvíssemos mesmo uns aos outros, se déssemos às pessoas a atenção que elas merecem, éramos capazes de nos sair com palavras ou frases mais originais, e até éramos capazes, mesmo sem querer e sem nos apercebermos, de ajudar mesmo os outros.
Há alturas em que precisamos mesmo de quem nos oiça, de uma palavra amiga, de um apoio, de alguém que deixe de fazer uma coisa que queira muito só para nos ficar a fazer companhia. Queremos que sintam a nossa dor, e que se sintam tristes, e miseráveis connosco.
O mundo está perdido, porque as pessoas já não querem saber umas das outras, já não se importam com nada, e encaram tudo de uma forma superficial, principalmente no que diz respeito a sentimentos, e às relações interpessoais.
Beijinhos.
Apanhaste a essência da “Idade do fio”, Art, sinónimo de que não leste na diagonal, fico contente! Não porque me surpreenda que o faças (todos nós te conhecemos o mínimo para crermos que somos sempre alvos da tua atenção) mas sim porque afinal se constata que há sempre um alguém que lê na horizontal, da esquerda para a direita e atenta nas palavras.
A comunicação já não é o que era. Os relacionamentos já não são como eram. Os sentimentos já não se manifestam como outrora. Concordo contigo, vivemos num mundo de superficialidades. Os valores, meramente materiais. Os sentires reprimidos e condicionados pelos estereótipos duma sociedade indiscutivelmente decadente.
Também eu estou cansada. Cansada de sorrisos moldados de hipocrisia, de chavões, de atentados constantes à integridade moral do ser humano.
“Mea culpa”, também eu, por vezes, me deixo cair no erro de passar os olhos por cima, sem ver. Depois... depois, como já referi a alguém há bem pouco tempo, surgem os mal-entendidos, as dúvidas, os equívocos... em resumo, a informação é, lamentavelmente, deturpada. Mas, e porque há sempre um mas e somos seres racionais, há o diálogo que entendo seja cada vez mais necessário... sem amarras, livre de preconceitos, de condicionalismos de qualquer índole... o diálogo para que se faça luz, para que tudo volte ao seu lugar, esclarecido, resolvido e sem sombra para qualquer mínima incerteza.
Se investirmos na comunicação, estamos a investir em nós, nas relações humanas, no nosso crescimento, no engrandecimento do Homem, no estreitamento do caminho em busca da dita felicidade...
...
Beijinhos.
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