sexta-feira, junho 15, 2007

like a dream

No silêncio da noite sentiu a memória tocar-lhe os lábios.

Num tempo fugaz. Efémero. Mordaz.

De mãos aveludadas percorreu-lhe o corpo, em doces palavras murmuradas. Caladas. Consentidas.

Vibrou ao orgasmo duma lua ofuscada.

Sensações encontradas, apanhadas, guardadas numa ansiedade violada.

No calor do abraço roubou-lhe o beijo, o fôlego e a paixão.

Num tempo curto, demasiado curto de tão longo, permitiu-se viver, reviver, cansar-se, atordoar-se, esgotar-se.

Revolveu-se. Revoltou-se.

Escutou. Indagou. Protestou. Consumou.

Na calada da noite, num momento fugaz, efémero, mordaz, o medo possuiu-se. O pânico emulou-se, o silêncio calou-se e o tempo... adormeceu.


2 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

foryou,
É assim em muitas noites... apaga-se a luz... vê-se as horas... aconchegamo-nos na cama... e preparamo-nos para sonhar...
Por vezes a noite parece um milagre onde quase tudo acontece quando se fecha os olhos. A noite escura preenche-nos a alma com sentimentos e pensamentos, ou desperta-nos em pesadelos. A noite no seu escuro preenche todos os espaços do nosso coração. Aconchega-nos os sonhos como se nos quisesse impedir de esquecer alguma coisa, ou como se nos quisesse incentivar a agir.
É estranha a noite que nos trás todos os dias o poder de sonhar...

Boas noites...

Beijnhos.

Anónimo disse...

foryou,
"like a dream"... e que bom é que assim seja... que bom é sonhar!... ainda que não passe dum mero sonho!...
O sonho comanda a vida”, não é?! :)


Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

(António Gedeão)

Beijinhos.