domingo, outubro 07, 2007

Viagem


Existem lugares que marcam a nossa vida. São lugares cheios... não cheios de gente, mas cheios de nós.

São lugares que contam a nossa história, sussurram-nos lembranças, gritam os nossos segredos. Guardam em cada parede um olhar, em cada canto uma lágrima, em cada objecto um sorriso. São lugares que nos queimam por dentro e nos roubam a alma por instantes.
Fazem-nos viajar a recantos de nós que julgávamos não mais existirem. Ressuscitam emoções que um dia quisemos deixar morrer.
Voltei a um desses lugares... onde tantas vezes me perdi de mim mesma, e onde tantas outras me encontrei. Onde o tempo parava para me ouvir gritar sentimentos em silêncio... embalados por uma música cuja letra contava uma história igual á minha.
Voltei e revi-me... revi-me em cada canto, em cada objecto, em cada palavra. Senti na pele o calor das noites sem fim e na boca o doce amargo sabor de cada momento ali vivido.

Saí de mim mesma e deixei-me ir... como quem vai em busca de uma qualquer resposta, supostamente deixada ao acaso num dos cantos daquele lugar. Deixei-me novamente embalar pelas velhas musicas que ainda contam a mesma história. Uma história que ainda é a minha.

Esqueci quem sou e procurei quem fui. Viajei por mim mesma e reencontrei caminhos já esquecidos. Caminhos que ficaram ali guardados, sem nunca levarem a lugar nenhum...
Chegada a hora de ir embora, voltei a mim. Despedi-me de quem fui e abracei quem sou. Deixei que cada refrão me contasse uma história diferente daquela que foi a minha... talvez a que ainda quero viver.

Devolvi cada emoção a cada parede, a cada canto, a cada objecto ... e, lançando-lhes um último olhar á saída, pedi-lhes baixinho que continuassem a guardar as minhas lembranças, para nelas seguir viagem sempre que me apetecer ali voltar.

5 comentários:

NunoSioux disse...

Viagem... Afinal toda a nossa vida não passa de uma viagem... Em cada sorriso, em cada passo, algo de novo...
Um novo cheiro, um novo sentido, um novo amigo...
Em cada reencontro, uma viagem ao passado, às memorias, às estradas percorridas no asfalto da memoria!!

Que o meu beijo faça boa viagem até ti!!!

;)

Å®t Øf £övë disse...

Ana,
Muitas vezes regressar a um local onde fomos felizes, é como recuar no tempo... é como voltar a um local de onde nunca saímos, e àquela pessoa que sempre fomos, mas que por vezes deixamos estar esquecida dentro de nós, num qualquer tempo.
Quando voltamos a um local assim, muitas vezes acabamos por o fazer por caminhos sempre mais curtos, e por nos sentir a percorrer as ruas em sentido inverso, reconhecendo a paisagem que nos completa, e independentemente de ser para norte ou para sul, acabamos por atingir o local de partida. Às vezes regressar é como estudar o tempo, e fazê-lo preservar no nosso interior, para o apreciar e reviver.
Viajamos pelo que já fomos, e voltamos ao que somos de momento, sem que para isso seja necessário sair do sítio, porque viajar é regressar no tempo, é como um recurso inevitável da nossa memória, devido à necessidade de busca, e de nos sentirmos vivos.
Beijinhos.

Alx disse...

"Existem lugares que marcam a nossa vida. São lugares cheios... não cheios de gente, mas cheios de nós."

É isso mesmo Ana!
Enquanto li as tuas palavras revivi o meu lugar. Aquele que sempre foi meu e continuará a ser...

É lá que nos podemos encontrar seja em que estado fôr. Tristes, alegres, perdidos ou nem por isso, mas voltamos sempre a encontrar aquilo que deixamos, talvez como um regresso ao passado. E esses regressos por vezes fazem falta!

Revi-me nas tuas palavras!

Beijocas

Alexandra

Porquê? disse...

Parabéns! este texto "tocou-me" bem. Descreve na perfeição uma viagem muito muito recente!
obrigada por me fazeres reviver esssa viagem!!!!
beijos

. disse...

Ana,
Há, na verdade, lugares que tocam a nossa alma, que nos fazem recuar no tempo, que têm o poder de transportarem para o nosso presente sentimentos que críamos até perdidos... esquecidos em uma qualquer esquina da vida...
Há pouco tempo também eu voltei ao lugar onde brinquei, onde cresci, onde vivi muito de tudo... mas, o momento não foi de forma alguma ao encontro do que eu ansiava... o lugar estava lá... praticamente o mesmo... mas não estava cheio de gente!... da minha gente...
Gostei muito do teu “pedaço”... aliás, como sempre!... ainda que em silêncio, no meu silêncio presente, admiro muito a tua inata capacidade de dares voz às palavras...
Beijinhos.