sábado, novembro 24, 2007

Partir


Por vezes, numa paragem qualquer, apetece-me partir e levar a saudade comigo. A saudade da paixão, dum colega, dum amigo e dum irmão. Teimo em ver raízes na terra solta onde só o cimento se funde. Confundem-me as luzes que ocultam as verdadeiras cores dos rostos e dos edifícios. Construímos paredes tão altas que apenas nos deixam ver a nossa própria sombra. Os que ficaram do nosso lado, por vezes, ignoramos e aos outros jamais esquecemos. Somos injustos.
Vejo, por mim e por outros que conheço, que gerimos mal: o tempo, os sentimentos e as relações. Somos tão obtusos. Não atingimos que, numa relação plena, devíamos optar por assumir uma atítude inversa e oposta à que adoptamos (alguns!) na condução: ignorar sinais e avisos e demorar o máximo de tempo a percorrer o caminho nos limites máximos da (nossa) velocidade. Confuso? Não! Sugestão: fazer marcha a trás, acender as luzes e voltar a engatar.
Acordo a meio da noite com ganas de sair e enfrentar a escuridão para melhor ver e entender o mundo. A luz ofusca e abafa, só o silêncio ilumina.
Que nos impede, num impulso impetuoso, de beijar e abraçar quem realmente nos agita, arrebate, confunde e baralha as horas e os dias?
Não é um lamento, apenas um momento em que sou, simultaneamente, juiz, réu e vítima de mim.

2 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

Pedro,
Temos sempre que decidir entre ficar ou partir, mas na verdade esta indecisão normalmente não nos leva a nada... quando muito leva-nos ao nada em que já estamos.
Por isso, questionamo-nos... Se ficar o que faço? ou então... Se partir para onde irei?
Mas será que partir não é fugir? E fugir não será trair?
Por fim questionamo-nos... e os outros... sempre os outros... o que diriam?
Independentemente de todas estas questões, em alguma altura das nossas vidas, todos nós temos necessidade de fugir, daquilo que nos é mais próximo, sem que isso signifique que perdemos o interesse, ou que deixamos de dar importâncias às coisas, e às pessoas que nos rodeiam.
É no fundo como suster a respiração para ver quanto tempo se aguenta...
E partimos... partimos numa viagem sem destino... sem bagagem até lá chegar. Sem sabermos onde, e o que significa esse "lá". Vamos apenas, partimos, fugimos.
Abraço.

Alx disse...

Somos injustos Pedro?
De facto, por vezes somos!!

Todavia, como muito bem dizes, podemos ser todos juízes, réus e vítimas de nós próprios. A marcha atrás só se poderá fazer quando, depois de termos assumido todos os papéis, retirarmos alguma conclusão.

Uma já eu tirei. Ainda bem que um dia te pedi para escreveres em prosa! Hoje leio e delicio-me!!!

Continua Amigo!

Bjocas