sexta-feira, fevereiro 01, 2008

O meu "Pedaço" # 17

E se houvesse um medicamento que depois de tomado nos fizesse esquecer a pessoa que amamos?
As farmácias seriam invadidas de gente à sua procura.
E se existisse uma operação que nos removesse a parte da memória que nos faz lembrar esse mesmo alguém?
As listas de espera para essa cirurgia ficariam enormes.
Mas não existe... não há... não se vende... nem se opera...

Então pode-se esquecer?
Pode... digo eu... usando a técnica vulgarmente chamada de "fogo contra fogo", que consiste em lançar outro fogo na direcção do que vem a arder.
O que há a fazer é queimar o que ainda houver de bom, e fazer com que as coisas que estejam associadas à pessoa que queríamos, não nos pareçam assim tão agradáveis. Aqui o grande problema pode ser o vento reacender as chamas.

E o que poderá ser esse vento?
Pode ser uma chamada dela - Há que não atender o telefone.
Pode ser uma vontade de lhe ligarmos nós - Apague-se já o número.
Pode ser uma fotografia dela ainda guardada, ou uma carta que imbecilmente relemos, ou quem sabe aceitarmos um convite para um café em casa dela... Bem, mas isto já não seria bem vento, mas possivelmente um tornado.

Portanto, voltando à técnica do "fogo contra fogo", o mais importante é queimarmos tudo à volta sem usarmos um único fósforo, e assim, extinguirmos o pouco que ainda pudesse existir, não permitindo recaídas, que sabemos que só iriam adiar o inevitável.

4 comentários:

Ana disse...

Art,

Esquecer quem amamos... difícil, não é? Quem não gostaria de conhecer a fórmula mágica?
Esquecer o "bom" e realçar o "mau" parece, de facto, uma solução... mas o "bom" é teimoso, persistente, pegajoso até... cola-se á nossa pele e instala-se na nossa mente, como um daqueles vírus informáticos que nos bloqueiam o sistema todo. E onde fica o "mau"? Guardado numa caixa de memórias, que quanto mais insitimos em abrir, mais ela se tranca a si mesma.

Não atender uma chamada? Aumenta a ansiedade, a curiosidade...
Apagar o número? E não o sabemos já de cor?
Uma fotografia? A nossa mente já a tem irremediavelmente gravada.
Quanto ao café... "que mal tem um simples café?" pensamos sempre.

Esquecer quem amamos... na falta do tal comprimido ou da tal operação, resta-nos a esperança de que o TEMPO seja o remédio milagroso. O tempo e um novo amor.

Beijinho

Pedro Arunca disse...

Quando já julgáramos esquecido, vem-nos à memória uma imagem esbatida, uma música arrepiante, uma lágrima soluçante e um sonho constante.
Comer queijo, não dará resultado?
Abraço

Dä®k Añgë£ disse...

Art,
Tenho a certeza que há remédios para o amor. Tenho é dúvidas se não haverá amores sem remédio...
Eu conheço pelo menos três remédios para o amor, sendo o mais eficaz deles todos a ausência, mas o tempo, e a ingratidão também podem ajudar a melhorar da "doença".
A ausência, e o tempo curam tudo, fazem esquecer tudo, gastam tudo, digerem tudo, acabam com a novidade, mostram-nos os defeitos, e por isso tudo fazem acabar, porque "tudo que é bom dura pouco".
Depois subitamente aquilo que era cegueira transforma-se em dor, e o que era amor, transforma-se em lágrimas, e em arrependimento. São estes os poderes que a ausência, e o tempo têm sobre o amor, porque nós somos fracos, inconstantes, seguimos menos a razão do que o coração... somos imperfeitos.
Beijinhos.

GONIO disse...

Certamente a destoar do "medicamento contra o amor"... Fernando Pessoa, feito Bernardo Soares, disse "é nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver"... MAS isto também magoa, e dói, e incomoda... haverá remédio para a solidão?