segunda-feira, maio 12, 2008

Coisas do arco do ego

Não sei que peça falta no Lego da minha curta (?), mas verdadeira, inexistência. Não nego o que desconheço, nem alego o que me despertence. Há, de incerteza, qualquer falha no esquema da minha desmontagem. Não fui sempre assim. Sinto-me incapaz de me imaginar assado, por falta de maneiras. Nem santo, nem animal de presépio e muito menos um rei magro. Ai, Jesus. Já fui menino!
Não me atolo no cimento, porque é dura a ecoexistência. Penso e pego no que me vai na inconsistência. Ergo, cogito e pum! Revejo-me mais no Egas monstro e menos no Moniz. Não busco qualquer tipo de prémio. Sinto o desapego de qualquer coisa. Comia uma bolacha.

Não sou fã das alturas, mas nunca me adego em copos baixos. O sangue - meu lado positivo - ainda corre tinto, como um rio. Conduzo desembriagado, contrário ao sentido das coisas, sem desatropelos e não agrafo ninguém contra a parede. Respeitando as bermas, apenas derrubo as placas depois das ervas e dos arbustos que se antecipam aos sinais (do tempo?). Lembro de, em nenhures, ter lido: “Bem-vindo a Moitas” e “Hospital 500m”. Enfim, são os atalhos para a morte dum paciente. Quem não sente tem o corpo dormente.
Sou um contribuinte incomum que declara, comodamente na Net e fora de prazo, os seus impostos e paga, a horas, as respectivas coimas. Evito as bichas e as pessoas das repartições, poupando as senhas de vez. Só de me lembrar da última, vez, que estive numa fila para o IRS, do senhor, com a senha nº 70, declarar a quem o não queria ouvir: - Aquela funcionária está há mais de uma hora com o 69! Sem comentários… Não há pernas que aguentem tantas demoras em pé.

Olhamos para a Política e para a Religião da mesma reforma. Não lhes revejo fronteiras: quase tudo se traduz em promessas e se resume a milagres. Dum lado, os que prometem futuros milagres e não cumprem. Do outro, os que cumprem promessas aos que no passado fizeram milagres. O crente é sempre o pagante. Por isso, apego-me ao futebol e pouco ligo à fé.
Quem não deve não treme.
As bolsas e os mercados não têm terras, fábricas e poços de petróleo, somente determinam o preço que pagamos para viver. Há um monopólio sem regras, onde crescem as ruas hipotecadas e praças vazias que ninguém compra. Se o diabo se lembra de cobrar os seus serviços vamos pagar ainda mais pelo pão. É previsível uma nova explosão demográfica de chineses – dos que não ganham pró arroz . Dirão xau-xau à terra que os viu comer e convertidos em comerciantes repovoarão, com lojas coloridas, as ruas de outros países. Cêntimos que não chegam para o petróleo. Barris de dólares inconvertidos para atestar a minha incapaz viatura. Não tarda, veremos anúncios para venda de carros usados, do tipo:
“Procuro dono com poder de compra”, “Gasto 100€ aos 100” , “Ano 2008. Impecável com 10 km”, etc.
Sete da manhã. A rua cheira-me a batatas fritas. O autocarro que vai para os Prazeres tem escrito: “movido a óleo Fula”. Ou estou fulo ou o pessoal anda mais frígido.

2 comentários:

foryou disse...

Oh Pedro, genial!! Adorei este texto!! Que critica social mais bem feita e repleta de humor!

Å®t Øf £övë disse...

Pedro,
Como sabes sou um admirador das tuas palavras. Gosto da tua prosa límpida, directa, e ao mesmo tempo ambígua. Como leigos, e meros curiosos que somos também temos todo o direito a fazer a nossa critica social, e esta que aqui fazes, está simplesmente fantástica.
Eu, tal como tu, também me interesso por estes assuntos, embora seja da opinião que este, mais do que um problema de cada um de nós, é o problema de um povo, e de uma cultura que está longe de ser homogénea, e de pensar da mesma maneira. Como vivemos numa sociedade em que há vários níveis e estados de consciência, isso acaba por condicionar, o que faz com que haja diferentes percepções da realidade. O que para uns parece bom, é tido como mau para outros.
Mas o maior problema da nossa sociedade, até nem está no "rebanho", porque o povo até é dócil. O principal problema está nos "pastores", que não só querem a "lã", como ainda querem "tosquiar" o povo, e esfolá-lo.
É preciso criar uma nova mentalidade, mas sabes, a realidade é complexa, e a verdade não existe, acontece...
Abraço.