quarta-feira, setembro 24, 2008

O humor é curtido

Nesta dita Sociedade (de irresponsabilidade limitada) é lamentável que o humor não se encontre instituido. Não há nenhuma lei, tratado ou organismo que o reconheça. Não conheço.

A política, a economia, a saúde, a educação, a segurança, a justiça, a informação, a ciência, a tecnologia, o desporto, e tanta coisa mais, têm o seu merecido lugar na organização do espaço social. Não lhes faltam porta-bandeiras na rua, no papel e nas instituições. Bem-haja a quem as reclama, promove e defende. Não contesto.

A magia do palhaço, a piada oportuna, a cena cómica, o gesto divertido, a anedota, o texto satírico, o discurso irónico, etc, são estímulos desinibidores e indicadores de actividade mental de e para quem se manifesta. Confesso, no entanto, já me ter surpreendido a rir de cenas tristes e inflamados discursos com que alguns sorumbáticos poderosos nos brindam. Involuntáriamente, decerto. Não nego.

O humor é a consciência que fazemos do nosso quotidiano. É grito de alerta e arma de defesa e ataque. Confronta, desperta, transforma e marca. Liberta-nos perante a vida, sem ele que graça teria? Não tem limites ou barreiras e não se confina a bandeiras: é universal e livre. Composto de ciência, inspiração e arte, nessa coisa indefinível. É filosofia. Não contesto.

Somos um universo de emoções e, conscientemente ou não, giramos à volta delas. Das nossas e dos outros. Para o bem e para o mal. Aos anos que vamos carregando, acrescentamos tiques de rigidez que nos tornam ainda mais velhos. Se dermos folga aos músculos do rosto ele cai, como um pano. Por isso me inquieto. Não o praticamos. Não o promovemos. Não o exigimos. Não desisto!


Factos, constatações e interrogações:

o político ri para todos; o génio ri dele próprio; o cego não vê piada em nada; o pobre não tem piada; o rico conta piadas; o coxo, o fanhoso e o gago dão vontade de rir; o avarento não dá um sorriso; o tímido ri de boca fechada; o gordo tem muita piada; o vizinho ri da desgraça alheia; o ignorante ri de tudo e de nada; o convencido ri de lado; o general não pode ordenar um ataque de riso; o humor negro tem um lado cómico; o brasileiro parte o coco a rir; o africano parte a moca a rir; o chinês tem sorriso amarelo; as crianças riem de nós; a Graça está em Lisboa; anedota boa é loira; o alentejo tem montes de piadas; o economista ri pouco; o dentista ri entre dentes; o vigantivo riposta; o poeta rima; humor inteligente é snobismo; o ladrão rouba piada; a hiena ri de quê?; se rir é o melhor remédio porque é que não vem nas receitas médicas?
VIVA O HUMOR!

4 comentários:

GONIO disse...

Que gargalhada!! :)
Genial, a parte final!
Como dizes, rir é o melhor remédio.
Se não te importas, tomo a liberdade de copiar o último trecho para o GONIO...
E riam da vida... de qualquer forma não escapamos dela vivos! (não sei quem é o autor...)

Pedro Arunca disse...

Serve-te! O humor é um cão sem dono.

Å®t Øf £övë disse...

Pedro,
Concordo com o Gonio, a parte final está genial, e cheia de humor, como só tu és capaz de fazer. Eu gosto de humor, até porque quando numa sociedade não cabe, ou não há sentido de humor, é sinal de que algo está errado. É porque há intolerância e rigidez a mais. Por isso, prefiro o humor ao "politicamente correcto", até porque este apesar do seu aspecto cómico não intencional, não me soa lá muito bem, porque me parece que serve sempre como capa para camuflar a hipocrisia.
E como tu dizes e bem... VIVA O HUMOR!!!
Abraço.

foryou disse...

Porque é que não vem nas receitas médicas???
Porque sendo de borla não interessa nem ao médico, nem ao farmaceutico e nem ao hipocondriaco!

Isso fez-me lembrar um ano em que no bar ouvi um grupo de alunos comentar que a cadeira ía ser terrível, "aquilo é lixado... uma seca..." e blá blá blá. Uma hora depois entro na sala e lá estavam os mesmos personagens "caramba que pouca sorte a minha" foi o meu 1º pensamento e como não me ocorreu mais nada comecei "hoje é a 1ª aula, vamos deixar as apresentações para depois e começar com 1 matéria extra. O tema é rir e o debate está aberto. Podem começar meus senhores". Após alguns momentos de estupefacção desataram a rir e eu tentei aproveitar "é isso mesmo meus senhores que eu pretendo: que as nossas aulas sejam momentos de trabalho e prazer! Agora sim podemos avançar, já vi que sabem rir"

Acredito que aquele riso me valeu uma das maiores taxas de aprovação que já consegui, 1 semestre de gente interessada, uma desmistificação de "terrível", uma bela dose de segurança como profissional e sobretudo muitos momentos de riso em trabalho que me salvaram de um semestre provavelmente condenado à partida.
Também me valeu o apelido de doida... :S (mas eu não me importo nada de não bater bem)
Rir é saudável para o corpo e para a mente!