segunda-feira, setembro 22, 2008

O rapaz que já estava morto!!!

Nunca aqui partilhei o meu pedaço "critico-social", hoje abro o coração e deixo algo que me surgiu em mente...


Bem bonita a história do rapaz que um dia decidiu mudar de rumo, largar o gosto do pó que encaminhava a sua vida para o abismo. Foi assim sem mais nem menos, que decidiu mudar, mudar de vez, largar para sempre as memorias que foi consumindo na prata, as memórias escritas ao sabor do garrote e á acidez do limão. Queria ser livre o rapaz, ser livre da dor e da agonia que o abraçava em cada gemido de pânico, em cada pedaço dessa penosa abstinência.

Bonita a história do rapaz, a história da garra, da força, do querer mudar. Mudar para sempre, sentir no rosto a brisa fresca da liberdade, desta sua nova liberdade. Menos bonita, a parte para si desconhecida, a parte em que o rapaz não sabia que já estava morto. Mesmo não estando vestido a rigor, deitado no mármore, o rapaz já estava morto.

Morto nos olhos secos de sua mãe, que tantas lágrimas derramou, em busca da esperança, do momento em que tudo iria finalmente ser diferente. Morto pelas preces humildes de seu Pai, que ao sabor do tempo foram caindo em descrença. Morto por tudo o que fez, por todas essas suas promessas esquecidas no pó, perdidas no tempo.

Por cada passo errado, por cada momento que raiva, por cada roubo, por cada pecado, rapaz acabou por morrer, não por dentro, mas por fora...
Podia ser diferente desta vez, podia ser diferente das outras inúmeras vezes em que prometeu mudar...

Demasiado tarde agora, demasiado tempo perdido, para adiar a sua própria morte.
Poderá mesmo alguém a nossos olhos morrer?
Não por dentro…mas por fora…

5 comentários:

foryou disse...

De repente... deixaste-me perdida a pensar...

Acredito na mudança. Acredito mesmo! Acredito que é possível mudar, alterar o futuro que parecia definido, corrigir erros... Acredito na mudança de mentalidade, na mudança de atitude, na mudança de estilo de vida...
Não acredito que seja fácil, mas acredito que é possível.

Mas... fizeste-me pensar sobre uma outra variável da questão: a temporal.
Quando é que essa mudança que acredito possível se tornou "impossível" de conceber aos olhos dos outros?... Onde está o traço limite que faz a mudança ser "demasiado tarde"?...

Poderá alguém a nossos olhos morrer?... Será que pode?... Será que consegue fazer-nos matá-lo? Será que conseguimos mesmo matá-lo?
....

NunoSioux disse...

ForYou: É mesmo por ai....
;) Beijo

Pedro Arunca disse...

Acredito em finais felizes e gostava que muitas das histórias não tivessem um começo triste.
O pior é ver que não há gente para cuidar dos "mortos" porque também se finaram.
Guerra à nossa calma!

Å®t Øf £övë disse...

Nuno,
Estou com a foryou quando diz que um dia quando for grande também vai coseguir escrever assim. Eu também quero acreditar que um dia serei capaz de escrever assim. Esta tua história do rapaz, está muito bem escrita, e muito real.
Eu acho que todos os dias quando nos vamos deitar estamos diferentes do que éramos quando nos deitamos na noite anterior, porque estamos sempre em constante mudança. É inevitável, e necessário que assim seja. Mas há mudanças que nos apanham desprevenidos, e normalmente essas são aquelas que podem alterar as nossas vidas, e virá-las de cabeça para baixo. Por isso, no meio de tantas e constantes mudanças, não estamos livres de cometer erros na vida, mas quando isso acontece, o que há a fazer, é ter a capacidade de o enfrentar, e de travar uma luta constante dentro de nós. Só assim poderemos ter a capacidade de olhar os nossos erros nos olhos.
Por isso eu digo que qualquer pessoa pode morrer aos nossos olhos, ou ser demasiado tarde para se redimir dos seus erros, se não for capaz de assumir e identificar os seus pecados, para então descobrir a melhor forma de os combater. Neste tipo de situações não chega ser vago e genérico. Só assim podemos identificar a necessidade de fazer alguma coisa por nós mesmos, e sermos capazes de saber o quê. Os erros e os pecados são capazes de se agarrar a nós de maneiras que às vezes recusamos reconhecer. E é fundamental ter a capacidade de o reconhecer, o que nem sempre se afigura fácil.
Só enfrentando a realidade, e assumindo a existência de um erro, e uma enorme vontade de o mudar, seremos capazes de levar os outros a acreditar na nossa real capacidade de mudança.

Abraço.

Pp disse...

Nuno
Os meus parabéns, é uma foto em forma de letras, palavras e frases. Um texto carregado de veracidade e actualidade. A força da tua escrita espelha o que a todos nós já sucedeu.
Penso que só muda mesmo, quem quer, mas para as situações em que a impotência é total, compete a quem está próximo poder ajudar e sofrer em conjunto.
Por vezes não é suficiente e no final apenas somos espectadores de uma dor e um definhar constantes. Mas no final sempre podemos dizer-lhe:
Não estás só...amigo(a),irmão(ã),amor.
-Fico aqui sempre, ao teu lado.
Abraço e mais uma vez parabéns