Lápis
Morrem de erosão, expostos e diminutos, sob tensão da lâmina afiada. Vida arriscada, riscada em inúmeros riscos, com números e letras. Perdem-se pelos pontos, sem conto, nos contos que nos conta. Chamados às contas, sem darem conta, fazem as contas da nossa cabeça. Sua vida curta, encurta enquanto a nossa história aumenta. Inventa linhas que não segue e caminhos que não reclama. Memória volátil, frágil. Se a mão for ágil, descobrem a fórmula como forma de vida ou acabam em escrita dissolvida. Por vezes escapam à desgraça da borracha que os ameaça, em jeito de traça, salva-se o seu trabalho, no traço dum rosto que traça ou, sem que seu gosto se sinta, sobre a tela e debaixo da cor que tem a tinta.
Alguém viu o meu lápis?
Alguém viu o meu lápis?
2 comentários:
eu não vi o teu lápis mas vi o que ele escreveu e gostei!!!
excelente Pedro! o pormenor, o encadeamento, o realismo e o sentimento, tudo muito bem misturado num texto que adorei!
um dia vou saber escrever assim, ai se vou!! :D
beijinhos
Pedro,
Eu vi o que o teu lápis escreveu, e depois de o fazer fiquei a pensar que a minha vida era bem capaz de dar um lápis também. E digo-te que já experimentei andar para aí a riscar, e o resultado foi escandaloso. Digo-te só que nem todos os lápis estariam para isso, porque os mais macios partem-se com facilidade, e os mais rijos fartam-se de ferir o papel. É um desespero, porque depois nem todas as borrachas servem para emendar, algumas ainda borram mais do que apagam, e outras estragam completamente a folha.
O lápis da minha vida é um autêntico camaleão, porque não consigo fixar-lhe a cor. Se bem que o azul seja o que mais calha, embora o amarelo também se farte de aparecer, o verde é mais raro, mas o vermelho e o castanho aparecem quando mais preciso de ter os pés bem assentes no chão.
A vida de qualquer um de nós dava um lápis, de diferentes cores, e com riscos finos ou grossos. Por isso, risquem muito, mas fiquem-se pelo lápis que sempre é mais simpático, porque pelo menos pode riscar da maneira que cada um de nós quiser.
Abraço.
Enviar um comentário