quinta-feira, março 26, 2009

Solidão... o quanto podes magoar!

Deviam ser umas 7h20 da manhã quando Laura regressou a casa depois de mais uma longa noite de vigília. Noites que a vóvó "Dalton" vai tornando cada vez mais difíceis de tão cheias, quer do fumo dos cigarros que vai acendendo, uns atrás dos outros, quer do som grave e ininterrupto da televisão, como quem não pode perder as últimas... deste mundo!

Noite após noite num cenário surrealista! Sentada 24 sobre 24 horas na sua poltrona eléctrica, que vai desdobrando à medida que avança o dia... ou a intensidade das dores!
Sobre a pequena mesa diante de si, um copo sempre cheio duma água amarelada pela mistura de whisky ao lado de um maço do seu inesgotável tabaco e não muito longe daquele telefone sem fios dum modelo em desuso, quer pela idade quer pela expectativa sem esperança de um toque que se faça seguir por uma voz a lembrar-lhe que ainda está Viva!

A presença de Laura era-lhe por isso indispensável... e uma pausa, por pequena que fosse, de tal forma a contrariava que lhe vincava as rugas realçando-lhe mais ainda o olhar esbugalhado naquele rosto esquálido... E noite após noite o cenário repete-se! Pudesse ela captá-lo através duma foto ou de um quadro e até já teria um título: Solidão... o quanto podes magoar!

2 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

Laura,
A solidão é um vício que apanhamos quando nos isolamos... mas esta é a solidão por mera opção. Depois há a outra solidão, que é aquela que nos é imposta, e que por isso nos obriga a um esforço diário para a tentar combater. Esta solidão tem que ser encarada sem dúvida nenhuma como uma doença. Esta é a solidão que nos faz chorar de dor. É a solidão na sua pior vertente, porque é a solidão amarga e cruel. Daí ter que ser encarada como uma condenação a que infelizmente muitos seres humanos estão obrigados.
Esta é o tipo de solidão em que o que não falta é tempo para se sofrer os dias passados, e chorar pelo futuro que já não se tem. É a solidão que acaba com os sorrisos, e com a alegria de viver. Esta é a solidão que espera a morte chegar, e que mata aos poucos.
Mas felizmente esta vóvó "Dalton" tem uma Laura que lhe leva todos os dias um jardim cheio de flores para lhe alegrar a vida.

Fico muito contente com esta tua estreia aqui no "Pedaços". Espero e desejo que a tua presença se torne regular e participativa.
Como adoptaste este espaço como teu também, espero que nos ajudes a cuidar bem dele, e que nunca o deixes cair na solidão que espera a morte chegar, e que mata aos poucos...

Beijinhos.

Pp disse...

Laura
Apesar de toda a tecnologia que temos ao dispôr, que com um simples "clicar" estamos do outro lado do mundo.
Nunca se ouviu falar tanto de solidão.
Sabes, penso que temos de investir muito mais nas relações pessoais.
Quando um amigo meu precisa de falar... eu vou ter com ele.
Bjs