sexta-feira, maio 08, 2009

CO3

Esta madrugada, numa pausa para descanso dos olhos e repouso das mãos, escolhi um programa diferente do habitual, aproveitando as horas de silêncio e vazio que só a noite permite. Coisa rápida e promissora de resultados satisfatórios. Não perderia mais de meia hora com o assunto. Dei-lhe as coisas do banho e a roupa adequada. Deixei-a só.

Passados uns vinte minutos, resolvi certificar-me dum barulho que se tornou repetitivo. Tive a sensação de que mais minuto menos minuto poderia abrir aquela porta de vidro e estender-lhe os meus braços. Sentei-me perto a observá-la com especial atenção para todos os seus detalhes. Era a primeira vez que o fazia. Nestes dois anos de convivência não me atrevi a ir tão longe e muita coisa desconhecida. Os manuais tornam a vida mais fácil.

A sua escolha foi uma decisão ponderada com base noutras experiências do passado. Com boas referências, qualidades de trabalho reconhecidas, de bom nome, bonita e discreta, convenceu-me.

Seu corpo saboreava por momentos o prazer daquela imersão. Após essas pausas consentidas, reagia agitada e libertava no ralo a água perfumada que eu adivinhava nas suas peças de roupa. Testemunhei as suas paragens e os seus mais lentos movimentos. Ansiei pelo fim daquela tortura a que me expus. Na minha cabeça, o barulho dum tambor alternava com o som de turbina de avião. Meus pensamentos giraram a velocidades estonteantes, não sei a quantas rpm.
Contorceu-se uma e outra vez. Nem deu pela minha presença! Reparei em algo que chamou a minha atenção: CO3(!). Segui o rasto das últimas gotículas desliziguezagueando pelo vidro embaciado.

A minha viagem de observação e conhecimento durou precisamente: dez eternos minutos. Descobri novos horizontes para a nossa relação e sei, agora, do seu problema a requerer ajuda dum especialista. Podemos escolher programas diferentes - que não tardarei experimentar - em altas temperaturas, com mais tempo para ela e menos para mim. Sei o tempo que precisa para realizar cada uma das suas potencialidades. Reconheço-lhe outras capacidades.

No fim do banho, abri-lhe a porta e senti de imediato o seu calor e cheirei o perfume do amaciador. Meia hora de lavagem e a roupa quase seca. Valeu a pena porque sei que a minha relação vai mudar. No manual de instruções li que CO3 significa que não centrifuga. Amanhã vou ligar para a assistência da minha máquina de lavar roupa.

4 comentários:

foryou disse...

ehehheheheh
excelente, Pedro! :)

e espero que recupere rapidamente porque senão vais ficar a saber o que é lavar roupinha à mão :P

Ana disse...

ahahahahaah

Isto é como tudo... ás vezes é preciso que certas coisas comecem a dar problema para lhes darmos a devida atenção!

As melhoras!:-))

jardinsdeLaura disse...

Pedro Arunca,

Mas o que foi que vos deu esta noite? Imagina tu que chego a casa de madrugada, depois duma noite de trabalho, preparo o pequeno almoço à "caçula", tomo o meu café sento-me ao computador e não paro de me rir!!! Li o texto que abre o Blog e quase de imediato sinto no rosto o rasgo de um enorme sorriso... continuo e deparo agora com o teu Post que quase me precipitou na gargalhada!... Mas que momento tão sedutor!! Incrível o que uma simples máquina de lavar pode despertar! Delicioso! Adorei!

Å®t Øf £övë disse...

Pedro,
Eu sigo o lema de que cada macaco deve ficar no seu galho, ou seja, sem te estar a chamar macaco... naaaaaaa... acho que te deves dedicar às tuas especialidades - escrever e pintar... e deixar de ser curioso.
Aconselho-te a consultares a lista telefónica, e a tomares nota de todos os técnicos da tua cidade, porque se lhe mexeres ainda vais acabar por estragar mais, e depois não vai haver CO3 que resista... eh eh eh...
Valeu a tua aventura pelo momento de leitura bem-humorado que nos proporcionaste, e pelos sorrisos que nos arrancaste.
Abraço.