segunda-feira, novembro 28, 2005

Atalhos

Quanto tempo perdemos na vida?
Se somarmos todos os minutos deitados fora, perdemos anos inteiros. Sim, depois de nascer, nós demoramos para falar, demoramos para caminhar...
E aí, mais tarde, demora para entendermos certas coisas.
Demoramos, também, para darmos o braço a torcer.
Viramos adolescentes (aborrecentes) teimosos e dramáticos.
E levamos um século para aceitar o fim de uma relação.
E outro século para abrir a guarda para um novo amor.
Quando, já adultos, demoramos para dizer a alguém o que sentimos.
Demoramos para perdoar um amigo.
E demoramos para tomar uma decisão.
Até que um dia fazemos aniversário - 37 ou 41 anos - talvez 50 e tal....
Uma idade qualquer que esteja no meio do trajecto.
E só aí nós descobrimos que o nosso tempo não pode continuar a ser desperdiçado.
Fazendo uma analogia com o futebol, é como se nós estivessemos com o jogo empatado no segundo tempo, e ainda nos dessemos ao luxo de atrasar a bola para o guarda-redes. Ou fazermos tabelas desnecessárias... quanto esbanjamento.
E esquecemos que não falta muito para o jogo acabar...
Sim, é preciso encontrar logo o caminho do golo. Sem muita frescura, sem muito desgaste, sem muito discurso.
Pois tudo o que nós queremos, depois de uma certa idade, é ir direito ao assunto.
Exceptuando-se o sexo, onde a rapidez não é louvada, para tudo o resto é melhor atalhar.
E isso nós só alcançámos com alguma vivência e maturidade. Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando. Não esperam sentadas, não ficam a dar voltas e voltas.
E não necessitam percorrer todos os estágios. Queimam etapas. Não desperdiçam mais nada.
Uma pessoa é sempre bruta?
Não é obrigatório conviver com ela.
Estão-vos a enrolar muito?
Beija-o primeiro, vê se ele realmente interessa, e transmite algum sentimento.
A resposta do emprego ainda não veio?
Procura outro enquanto esperas.
Paciência só para o que importa de verdade.
Paciência para ver a tarde cair.
Paciência para degustar um cálice de vinho.
Paciência para a música e para os livros.
Paciência para ouvir um amigo.
Paciência para aquilo que vale nossa dedicação.
Para enrolação, um atalho.
O maior possível.

1 comentário:

Å®t Øf £övë disse...

Lis,
Concordo que quando somos adolescentes, ou aborrecentes (como tu lhes chamas), normalmente falta-nos maturidade para certas coisas.
Mas quando chegamos aos 37 ou 41, ou talvez 50 (como dizes), a verdade é que já temos mais maturidade e mais capacidade para tomarmos certas decisões ou atitudes, mas não concordo contigo quando dizes que é sempre melhor "atalhar".
Acho que o facto de uns "atalharem" mais ou menos que outros, não está tanto assim relacionado com a idade, mas mais com a forma de ser de cada um e com os nossos próprios ritmos de reacções às situações.
Agora, sinceramente, não te sei dizer quais são os que estarão mais correctos, se aqueles que "atalham" menos, se os que "atalham" mais.
É na realidade uma duvida que me acompanha, e para a qual eu dificilmente algum dia obterei uma resposta.
Beijinhos.