domingo, maio 28, 2006

"Diário da tua ausência"

“Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter connosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.”

Principia desta forma, a belíssima narrativa deste livro:

“Imagina que te escrevo em voz baixa. Falamos sempre baixo quando queremos que acreditem nas nossas palavras. E tudo o que aqui escrevo é verdade.
Escrevemos porque ninguém ouve. Escrevo-te porque estás longe, numa cidade onde o nevoeiro roubou o ar ao sol e as pessoas pensam mais do que sentem. Se ao menos estivesses aqui ao meu lado, passava-te a mão pela nuca, puxava-te ligeiramente os caracóis e então tu fechavas os olhos de prazer e eu sentia-te próximo. Mas isso agora não é possível…”

“Espero por ti porque acho que podes ser o homem da minha vida. E espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti. E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de, tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz pensar o quão longa e inglória pode ser a minha espera.”

Quando estou aqui sentada, a namorar o mar e a escrever este diário por ti e para ti, porque é mesmo para ti, meu querido, longínquo e quase impossível amor, sinto-me feliz e não me sinto só. Sei que a minha crença inabalável, a minha energia amorosa e o meu desejo eterno por ti irão alcançar-te e tocar-te de alguma forma. Não me perguntes como, mas sinto que é possível. Gosto de acreditar que tenho o dom de tornar realidade as minhas ficções. E, neste momento, tu és a minha mais bela ficção, um sonho que acalento como uma criança que cresce, sabendo que a espera será grande, será arriscada e ninguém sabe se será frutífera. O objectivo não é o mais importante, mas sim o caminho que se percorre para o alcançar.
Somos nós, com os nossos passos, que vamos fazendo o nosso próprio caminho. Há quem corra demasiado depressa e perca a alma no trajecto, há quem mude de ideias e arrisque um atalho, há quem não saiba escolher a melhor direcção quando chega a uma encruzilhada, há quem deixe pedras pelo caminho para não se perder, se precisar de voltar para trás.
Não sei que espécie de caminhante sou, para onde vou, não sei. Nem sei para onde vais. Nem tu sabes. Pode ser que um dia acordes com uma luz nova, uma força desconhecida que te vai trazer até mim… Sei que há uma força estranha que me faz correr para ti, embora nunca, em nenhuma circunstancia, corra atrás de ti, porque não posso, não me é permitido interferir no teu destino e mudar o curso da tua vida. Isso, terás que ser tu a fazê-lo, por ti e para ti, se assim o entenderes. Será que sentes a mesma força? Quero acreditar que sim, mas no fundo começo a sentir que não…”
A polémica, infundada ou não, de plágio, em que se viu envolvida esta escritora, na verdade, quanto a mim, não minimiza o valor desta obra, que considero de excelente qualidade.
Gosto de ler, gosto muito de ler. Sempre que passo perto de uma livraria não deixo de entrar, adoro sentir o cheiro dos livros. Passeava por entre eles para distrair o espírito, quando ao longe avistei uma original encadernação que me chamou a atenção. Aproximei-me e ao ler o título que dá nome ao livro, de facto aquele teria que ser meu. “Diário da tua ausência”, tem tudo a ver com o meu presente momento de vida.
Aquando da minha criação, na distribuição de talentos, não fui contemplada com o dom da palavra, nem tão-pouco com a capacidade de colocar nas palavras as minhas emoções. Parece-me que traduzidos por palavras, os meus sentimentos ficam muito longe do que na realidade são ou sinto.
Este livro poderia e dá voz ao meu sentir. Estas poderiam ser as palavras que eu escreveria ao meu Amor se tivesse a faculdade de o conseguir. Nele está descrito, tão incrivelmente bem, o amor que eu sinto pelo meu Amor ausente.
Disseste-me: “Marcaste a minha vida." ”Sussurrando-te” ao ouvido, por entre soluços, pois as emoções que teimo em aprisionar no meu coração, por vezes tomam vida própria e soltam-se, respondi-te: “E tu mudaste a minha vida!” A verdade é tão-somente esta!
Eu espero, eu sei esperar… ainda que esse dia que espero não chegue nunca, eu vou esperar!
Alguns chamar-lhe-ão obsessão, eu chamo-lhe… Amor!

2 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

Nefertiti,
Ainda não li o livro, mas sei que vou fazê-lo.
Confesso que pessoalmente gosto da MRP, e tenho boas razões para gostar dela. Mesmo assim, há sempre quem não goste e um dos críticos mais severos é o João Pedro George, autor do livro Couves & Alforrecas. Já todos conhecemos o texto e as razões do famoso sociólogo, que fundamenta o seu desapreço pela autora numa acusação de auto-plágio.
Toda a argumentação dele assenta na ideia simples, de que os livros dela repetem-se e por isso são maus. Mas a verdade é que os escritores, maus e bons, sempre se repetiram e imitaram uns aos outros. A repetição, em literatura, é normal e até inevitável.
A MRP é, na realidade, uma autora original. Goste-se ou não, da sua escrita é inegável que estamos perante uma criadora que se reinventa a cada nova obra e sempre com inegável êxito.
Resta saber qual é o segredo do sucesso da MRP. Desde logo, ela tem o mérito de encontrar um conjunto de temas suficientemente importantes para interessarem a toda a gente. O amor, a solidão, a condição feminina, ou os ambientes luxuosos, etc, etc...
A verdade é que muitos são os que a criticam, mas muitos mais são os que a lêem. É uma escritora light, mas consegue superar, em vendas, os best-sellers internacionais.
E todos sabemos que este é um fenómeno incontornável em Portugal.
Beijinhos.

Porquê? disse...

Nefertiti,
despertaste a minha curiosidade! não imaginava que o tema do livro fose tão interessante! identifiquei-me com muito do que li, não por viver um amor impossível mas por ser distante e por isso arriscado, tal como ela o descreve...
vai ser a minha próxima compra! obrigada pela sugestão!
Beijinho