terça-feira, novembro 14, 2006

Infidelidade

Pensando que ainda tenho metade da vida para viver, não sei se é mais fácil sobreviver no amor, ou viver no desamor. A verdade é que já experimentei ambas as situações. Considero-me uma mulher vivida e sofrida, até infiel já fui algumas vezes... poucas...
Será que me deveria arrepender de o ter sido?
Não, não arrependo, porque para mim a infidelidade foi sempre um estado de transição. Uma resposta aos impulsos do corpo, e um desafio à minha consciência.
Para mim, ser infiel é um sinal de alerta, é como quando bebemos muito e o fígado manda para o exterior sinais de descontentamento.
O que eu não sei mesmo, e me pergunto muitas vezes, é se alguma vez fui enganada. Não sei se alguma vez alguém que amei dormiu com alguém que não fosse eu.
Se é importante?
Nada... nadinha...
Quanto a mim posso dizer que já tive sexo com outras pessoas antes de descobrir que já não estava apaixonada pela pessoa com quem mantinha uma relação. Era um sinal... e foi...
Quando era mais nova, lembro-me de que sabia que estava apaixonada, por não desejar mais ninguém, por não ver mais ninguém que não fosse o "meu" Amor. Às vezes parecia que tinha aversão ao mundo, porque só desejava a pessoa que estava comigo. Entretanto tudo isso mudou... cresci, alarguei os horizontes, e tornei-me disponível.
Em primeiro lugar para amar, mas também para sofrer por amor.
Diria que talvez na minha idade, a minha vida seja o reflexo dos meus pecados passados. Mas como me recuso a aceitar isso, procuro estar mais atenta... vivo um período de busca acentuada, mesmo quando parece que não procuro nada... como agora.
Ao ter começado a namorar muito nova, aumentei as probabilidades de vir a ser infiel... e fui. E como dizer que não voltarei a ser, se estou disponível para amar?
Continuo sem saber se já alguma vez fui enganada, mas já fui abandonada, e a dor torna-se maior quando não sabemos porquê.
O amor é mesmo mais o meu género, mas o problema é que a paixão é mais o género da infidelidade...

2 comentários:

Ana disse...

Dark Angel,

Este é um tema que sempre me deixou a pensar. Porque é que alguem é infiel?
Tambem sempre encontrei as respostas na questão da disponibilidade e da procura.
Quando alguem é infiel, está disponível para amar novamente...porque procura.
Talvez esse alguem não tenha consciência daquilo que lhe falta, daquilo que ainda não encontrou na pessoa que tem ao lado, nem mesmo consciência de que procura algo. Poderá considerar um deslize, uma falha, um erro... mas a infidelidade será sempre um sinal de que aquilo que vive não é suficiente para lhe acalmar a alma, o pensamento, o corpo...e, por isso mesmo, continua a procurar.

Beijinho

Å®t Øf £övë disse...

Dark,

Pegando na tua frase em forma de dúvida:
"E como dizer que não voltarei a ser (infiel), se estou disponível para amar?"

A esta frase apetece-me responder-te com a letra "jura" de Carlos Tê:

Jura
Que não vais ter uma aventura
Dessas que acontecem numa altura
E depois se desvanecem
Sem lembrança
Boa ou má
E por isso mesmo se esquecem
(...)
Jura
Que não vais ter uma aventura
Porque eu hei-de estar sempre à altura
De saber
Que a solidão é dura
E o amor é uma fervura
Que a saudade não segura
E a razão não serena
Mas jura
Que se tiver de ser
Ao menos que valha a pena



Realmente, a questão da infidelidade é algo muito subjectivo e cuja definição é muito própria de cada um. Para mim, a infidelidade não é um comportamento exclusivo das pessoas com pouco carácter, pelo que é importante que cada um possa reflectir honestamente sobre o seu próprio comportamento. Acho que muito mais importante que fidelidade é a honestidade (ou falta dela) que as pessoas têm umas com as outras nos seus relacionamentos afectivos. O que me choca não é a infidelidade (desde que assumida, com todas as suas consequências), mas sim a mentira e falsidade. Para a maioria das pessoas, a palavra infidelidade implica um relacionamento com uma forte componente sexual. Contudo, na realidade não é bem assim, é sabido que quase todas as relações começam por ser uma "amizade especial".
Não podemos falar em infidelidade apenas e só relativamente aos relacionamentos conjugais, porque podemos ser fiéis ou infiéis, leais ou desleais, correctos ou incorrectos sob várias formas, e em vários aspectos, relativamente a um sem número de questões.
Sendo agora um bocadinho polémico, e até controverso... no que diz respeito às relações conjugais, há para mim, algumas questões que se levantam, e para as quais não sei se algum dia obterei uma resposta:
Será o Homem um ser monogâmico por natureza?
Ou será a monogamia um comportamento imposto pela sociedade?
Vemos tribos na Amazónia em que a poligamia é sinónimo de status. Os muçulmanos têm como derradeiro e último estado de alma, 40 (!) virgens no paraíso, à sua espera. A mim, a questão da fidelidade e infidelidade apresenta-se como um ensinamento que é transmitido de pais para filhos. É mais como uma tradição ou uma religião. São verdades tidas como absolutas na nossa sociedade. São comportamentos que nos são (mais do que ensinados) impostos como comportamentos normais (fidelidade) ou anormais (infidelidade) que, no fundo e pensando bem, atentam contra a liberdade de cada um.
E a liberdade de cada um termina quando colide com a liberdade do próximo.
Somos obrigados a cumprir a lei. Temos regras, obrigações e deveres. E ainda bem que assim é... ou viveríamos num perfeito e permanente anarquismo.
Mas, num mundo regido por normas, regulamentos e doutrinas, a única coisa que realmente é nossa, absolutamente livre e que ninguém controla (às vezes nem nós próprios) são os sentimentos.

Beijinhos.