quarta-feira, outubro 31, 2007

Falar do quê?

Há momentos em que não nos apetece falar, basta-nos estarmos presentes. Partilhamos um espaço e um tempo, tal como a visão duma paisagem ou dum filme numa sala cinema. Podemos beijar, deixar nossa mão noutra mão e trocar um olhar, sem que as palavras façam falta. O silêncio supera-se, dá força e lugar a outros sentidos que nos envolvem. Sentimos quando as palavras são desnecessárias, bastando a insinuação dos gestos que se magnetizam por indução.

A memória é mais fiel à imagem do que à palavra. O passado é uma projecção de slides, ao som das músicas que o preencheram, com algumas palavras e frases soltas. Guardamos fotos e poucas legendas. Há quem tenha o seu "Diário" e nele descreva as imagens de cada dia. Reza o ditado: "uma imagem vale por mil palavras". Cada um de nós tem o seu próprio registo. Único.

Cuido de escrever sobre o tudo o que me vem à tona com o rigor da minha objectiva. A memória é algo de tão extraordinário comparável à visão, mas em sentido contrário: vê para dentro.

4 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

Pedro,
É bom quando estamos com alguém com quem conseguimos partilhar um espaço e um tempo, em profundo silêncio, e em que as palavras são desnecessárias. Isso significa que não há um espaço igual ao nosso... não há um tempo igual ao nosso... nem uma vida igual à nossa.
Há o nosso espaço... o nosso tempo... e a nossa vida...
É bom partilhar, e mais tarde recordar, todos esses momentos... e todas essas vivências... mesmo que se saiba que do passado o que nos fica são recordações de momentos, mais do que palavras. O que recordamos são fragmentos de vida que dificilmente conseguimos juntar para formar novamente um todo.
Abraço.

foryou disse...

Registo tudo que não quero esquecer. A memória é uma coisa meio esquisita e às vezes fica sem pilhas... e eu não quero arriscar perder-me

Alx disse...

Eu sabia Pedro que mesmo em prosa as palavras seriam extraordinárias!!!

Parabéns!

Bjs

Alexandra

Ana disse...

Pedro,

O silêncio é algo de estranho para mim... tanto o procuro como o evito, tanto me acalma como me enerva, preciso dele e, ao mesmo tempo, dispenso-o!
Guardo na memória as imagens de momentos, mas logo de seguida procuro as palavras que os preencheram.

Nem sempre acredito em palavras, mas quase nunca as imagens e os silêncios me bastam...

Beijinhos