sexta-feira, março 14, 2008

Mais um pedaço...

Portal Liquido, Francisco Panachão


Estava a ouvir Maria João Pires a tocar e pensava… “Que raio, de facto, quando algo faz parte de nós, mesmo que só muito tarde seja descoberto, não há nada nem ninguém que nos faça separar daquela sensação”. Isto, porque pensando com os meus botões, tinha a impressão de que nem escrever conseguia, pelo menos, não como antes. Só que, associado ao piano que estava a ouvir surgiu o pensamento: “Se já soubeste tocar piano alguma vez na tua vida, o escrever não é mais do que isso mesmo. Escreve como se tocasses piano!”.

Estranho… mas o que é certo é que enquanto escrevo através de um teclado, estou a usar as mãos da mesma forma que usaria para tocar…

Vi há dias um filme que já aqui foi falado (“A Estranha em mim”).
Já muita coisa mexeu comigo e este foi mais um dos filmes que na verdade, tocou fundo!
Para além de uma interpretação genial, o filme trata de um assunto deveras subjectivo mas muito importante. Até que ponto conhecemos os nossos limites?
Lembro-me de numa determinada aula um professor nos ter dito: “A linha que separa o normal do patológico, é somente um fio de cabelo!”. Esta frase em determinado contexto faz todo o sentido, mas se fizermos uma analogia para os limites que acima falo, estamos perante a mesma situação…

Só experimentamos determinadas sensações/sentimentos se formos expostos a factos que nos determinem essa direcção. Enquanto tal não acontece, podemos fazer uma ideia, mas… muito ténue. Todavia, se algo nos obrigar a ter que chegar ao nosso limite, é como se passássemos uma película de água, da qual nem nos apercebemos.

Lembro-me de algures no mesmo filme, ouvir uma frase idêntica a esta: “ Uma estranha é o que és agora e… já não há regresso!”.

Recordo a frase de Albert Einstein, muito usada por uma grande amigo que já não se encontra entre nós - “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.

Não é fácil depararmo-nos com o estranho que há em nós, mas uma vez encontrado, seja de que forma for, não há regresso possível ao que antes éramos. Passamos a existir de uma forma diferente, modificamo-nos e, talvez essa seja a nossa forma de evolução…

2 comentários:

foryou disse...

Por vezes as palavras e ideias dos outros ajudam a projectar-nos :)
As tuas palavras podiam ser minhas... talvez noutro contexto, mas podiam.
Realmente, há sensações e sentimentos que só experimentamos quando somos expostos a determinadas situações e nessas alturas quase poderíamos afirmar que somos estranhos em nós mesmos. Mas como tu próprio dizes: "se já soubeste tocar piano, alguma vez na tua vida, escrever não é mais que isso. Escreve como se tocasses piano" porque não é fácil depararmo-nos com um estranho em nós mas quando o descobrimos só há um caminho possível: escrever como se tocassemos piano!

beijo

Å®t Øf £övë disse...

Alexandra,
Há sempre um estranho que mora dentro de cada um de nós. Alguém que tem sonhos, cujos sonhos nós não ousamos partilhar com ninguém, mesmo que esse estranho que mora dentro de nós teime e insista em sair, em correr, ou fugir, de dentro de nós.
Esse ser estranho que mora dentro de cada um de nós confunde-nos os sentimentos, não nos deixa em sossego, e não gosta de mentiras, por isso acaba por nos obrigar sempre a desvendar um pouco de si, através de uma atitude, ou de alguma coisa que nos obriga a dizer.
Esse ser estranho que mora dentro de cada um de nós, nunca se importa com o que os outros pensam, porque nunca sente a necessidade de agradar, bajular, ou suportar os outros, por isso gosta de nos levar a fazer o que lhe apetece, quer a gente o queira ou não.
Esse ser estranho que mora dentro de cada um de nós, normalmente tem sentimentos puros, e é capaz de dizer palavras duras e directas, porque é sempre tão forte que não tem medos, nem dores, e tem a capacidade de nos chegar a assustar com tanta transparência.
Esse ser estranho que mora dentro de cada um de nós, e com que por vezes sentimos a necessidade de conversar, não é mais do que as nossas próprias inquietações, e incertezas, e nos obriga a desconhecermo-nos em muitas ocasiões.
De quando em vez, é bom darmos "asas", e deixar "voar" esse estranho que há em nós...
Beijinhos.