segunda-feira, março 17, 2008

Coragem

Não sou amarga, por mais que me contrariem o coração. Sou apreciadora de homens com sensibilidade, e com bom senso, embora normalmente o bom senso seja muito relativo...
Desde muito nova que me apaixono com facilidade, por isso decidi trocar o termo "paixão" por "fascínio", porque me fascino com tudo o que as pessoas têm para me mostrar, e com tudo o que lhes posso conquistar. Gosto desta luta, que por vezes se assemelha à improbabilidade de encontrar uma casa de banho limpa num festival de Verão.

Uma desta noites sentados na mesa de um bar, e com a vista mais bonita com que poderia sonhar como pano de fundo, ele por quem me sentia apaixonada, disse-me:
"É estranho, mas eu nunca me senti tão à vontade a falar com ninguém como contigo"
E eu perguntei: "E isso é bom, ou mau?"
Ele respondeu-me: "É assustador"
Depois dele me dizer isto a música do bar parou, e os empregados limparam os últimos copos. Então eu quase a cambalear levantei-me, fui até ao balcão, e ajudada por tudo o que tinha bebido e ouvido, dirigi-me ao barman e disse-lhe:
"Eu percebo que queiram todos ir para casa descansar, mas não parem a música, para não me pararem este momento"
Voltei à mesa dos copos vazios, de todas as palavras que ele ainda não me tinha dito, e de todas as confissões, e voltamos a ouvir a banda sonora da noite, que por acaso era péssima devo dizer, mas o que quer que fosse teria soado bem naquela noite.
Saímos do bar directos para o carro, de mão dada, e unidos pela paixão. Ele deixou-me em casa e fui dormir. Nunca mais estive com ele...!!!

Vejo-o muitas vezes, ele sorri-me a medo, e eu procuro nem olhar para ele. Quando estou acompanhada, ele arrisca em vir dar-me um beijo, porque sabe que assim não corre o perigo de eu o questionar. Vem com o seu ar "politicamente correcto" e pergunta-me: "Estás boa?". Depois afasta-se confiante, e com a sensação de ter cumprido o seu papel.
Deve pensar que eu acho que ele até é um gajo porreiro... e até acho, só que para mim um gajo porreiro é uma coisinha insuficiente, porque na minha avaliação, seja de uma queca, ou de um amor, a positiva só começa a partir da coragem.

Não percebo como ele pode ter sido tão cobarde, e há de certeza quem ache que eu deveria vingar-me dele, enxovalhá-lo, ou desprezá-lo num momento "politicamente correcto", mas eu nunca lhe faria uma coisa dessas, porque a vingança é uma motivação muito perigosa, por isso prefiro sorrir, sabendo que um dia ele vai lembrar-se de mim quando precisar de coragem.
A coragem só podia ser mesmo uma palavra feminina...

3 comentários:

foryou disse...

Acho que não era suposto eu comentar este texto, mas apetece-me, portanto que se lixe.

Abordaste aí uma questão que no fundo me parece ser a razão para a conclusão: segurança/confiança.
Foi exactamente isso que me chamou a atenção neste texto. É que desde cedo me apercebi que quanto mais segura e confiante me sentia em mim mesma, mais se assustava quem me rodeava.
Especificamente em relação aos homens, não sei se é por aquela velha máxima "a mulher é sensível, frágil e chorona, o homem é forte e protector". Não deixo de ser sensível, não sou chorona e a minha fragilidade não corresponde aos padrões. Acho que exactamente por isso, assustei muitas vezes. Mas aí acho que estamos as duas de acordo: se quando se sente assustado foge, então de certeza não faz o meu género. É que a coragem não corresponde a quem não sente medo, mas a quem é capaz de lhe fazer frente e isso é algo que admiro em qualquer homem.

Vingança... é motivação?... se calhar é, mas dispenso. Acho-a uma perda do meu precioso tempo de vida.

Å®t Øf £övë disse...

Dark,
Ter coragem é sentir... ter coragem é amar... ter coragem é dizer... fazer... ousar. Mas não ousar por ousar, nem dizer por dizer.
Ter coragem, é ter a capacidade de nos aventurarmos, de enfrentarmos todos os perigos, medos, ou dificuldades.
Ter coragem, é pôr o coração naquilo que se faz.
Talvez por tudo isto haja tanta gente com falta de coragem, porque é preciso coragem para se ter coragem.
Beijinhos.

GONIO disse...

Gostei particularmente desta frase: "É estranho, mas eu nunca me senti tão à vontade a falar com ninguém como contigo"
Será assustador sentir isto, mas é maravilhoso sentir esse à-vontade, essa proximidade, essas barreiras caídas. Faz-nos sentir mais pessoas, mais próximos. Talvez vulneráveis, mas há sempre uma identificação quando há esse à-vontade.
Muitas vezes dá medo ter essa sensação. Mas sinto que sou mais querido quando sou assim à vontade. Porque não há barreiras, porque não há máscaras. Porque sou eu.
Essa confiança, essa quase nudez psicológica, sabe tão bem.