Empedernida...
Ela havia perdido o rumo da sua vida. Perdida da vida e na vida e, também, perdida de si mesma. Encontrava-se todas as vezes que olhava um espelho que nada reflecte a não ser o beijo dele, o cheiro dele na sua pele. O reflexo do amor aos pedaços que se unia numa fragrância única, e a inebriava pela sua ausência...
Se fechasse os olhos, nem que fosse num subtil piscar, o sabor do corpo dele no seu regressava de imediato... o seu toque, esse visitava-a vezes sem conta... e ela ouvia-o como no primeiro aperto dos seus corpos.
E ela continuava a encontrar-se nele, no espelho, no reflexo da alma, no reflexo do seu próprio corpo, no reflexo da cama ainda desfeita e quente depois da noite em que se amaram mais uma vez perdidamente e pela última vez...
Ensandecia... a sobrevivência é terrível, não deixa lugar para o sentimentalismo. A falta de escrúpulos é um pesadelo... e é na sombra do escrúpulo que está plantada a semente da decadência... e a decaída dela desenrolava-se abruptamente...
Então, ela fingia... findavam-se as pressas, prostrava-se à vida... sentia-se calma e serena, ou fingia que assim fosse... fingia cá para fora a verdade que vivia dentro dela, ou fingia que vivia...
Sentia um prazer enorme em fazer sentir aos outros aquilo que não era. Para isso bastava-lhe, logicamente, ser alguém distante de si própria. Pediam-lhe, exigiam-lhe e ela correspondia...
Perante determinadas situações, criava, brincava, fingia-se perdida, estúpida, idiota e sorria, sorria... mesmo sem vontade... Teatralizava palavras, afastava sentimentos, fazia, fosse o que fosse e sempre alguma coisa que os outros gostavam que ela fizesse, e o esperavam dela... mesmo sem gostar... É tão simples e tão complexo, demonstrar uma ignorância contida, numa procura de si própria! E ela, o seu verdadeiro eu, continuava na sombra, teimosa em se esconder da realidade.
Hoje, permanece estática, petrificada de tanto tempo ter ficado parada... na ânsia de ser descoberta...
Assim continua, estátua de carne, onde nem os olhos se movem, nem a boca fala... só os braços se balançam em símbolo de um calado gritante não...
Se fechasse os olhos, nem que fosse num subtil piscar, o sabor do corpo dele no seu regressava de imediato... o seu toque, esse visitava-a vezes sem conta... e ela ouvia-o como no primeiro aperto dos seus corpos.
E ela continuava a encontrar-se nele, no espelho, no reflexo da alma, no reflexo do seu próprio corpo, no reflexo da cama ainda desfeita e quente depois da noite em que se amaram mais uma vez perdidamente e pela última vez...
Ensandecia... a sobrevivência é terrível, não deixa lugar para o sentimentalismo. A falta de escrúpulos é um pesadelo... e é na sombra do escrúpulo que está plantada a semente da decadência... e a decaída dela desenrolava-se abruptamente...
Então, ela fingia... findavam-se as pressas, prostrava-se à vida... sentia-se calma e serena, ou fingia que assim fosse... fingia cá para fora a verdade que vivia dentro dela, ou fingia que vivia...
Sentia um prazer enorme em fazer sentir aos outros aquilo que não era. Para isso bastava-lhe, logicamente, ser alguém distante de si própria. Pediam-lhe, exigiam-lhe e ela correspondia...
Perante determinadas situações, criava, brincava, fingia-se perdida, estúpida, idiota e sorria, sorria... mesmo sem vontade... Teatralizava palavras, afastava sentimentos, fazia, fosse o que fosse e sempre alguma coisa que os outros gostavam que ela fizesse, e o esperavam dela... mesmo sem gostar... É tão simples e tão complexo, demonstrar uma ignorância contida, numa procura de si própria! E ela, o seu verdadeiro eu, continuava na sombra, teimosa em se esconder da realidade.
Hoje, permanece estática, petrificada de tanto tempo ter ficado parada... na ânsia de ser descoberta...
Assim continua, estátua de carne, onde nem os olhos se movem, nem a boca fala... só os braços se balançam em símbolo de um calado gritante não...
3 comentários:
Nefertiti,
A Primavera chegou!!! :)
"A flor de Muguet durante o Inverno dorme na terra debaixo das folhas secas e desfeitas das árvores. Dorme como se tivesse morrido. Mas na Primavera as suas longas folhas verdes furam a terra e crescem durante alguns dias até terem um palmo de altura..."
...
Depois deste aparte, e comentando agora o teu texto, eu diria que a palavra empedernida faz-me visualizar a imagem de uma estátua imóvel, e sem actividade mental, o que me parece ser o oposto daquilo que tu és. Tenho-te como alguém bem real, que não é minimamente oca, bem pelo contrário... alguém com uma real actividade mental, que de empedernida nada tem.
Como já disse no texto do Pedro em que ele questiona o Amor, parece-me que o que mais dói quando se ama alguém é imaginar tudo o que não conseguimos realizar com essa pessoa, e é o que não construímos em conjunto que nos pode entristecer e matar. Julgo que é um pouco a isso que este texto se refere, ou pelo menos eu senti-o assim. Mas na realidade eu não sei o que será pior, se não ter a pessoa de quem se gosta presente, mas ter a certeza que está connosco sempre no pensamento, se tê-la ao nosso lado a todo o instante, mas sempre com o pensamento distante.
De qualquer maneira, todo este turbilhão de sentimentos que partilhas neste texto, aquele que a mim mais me parece sobressair, é a angústia, o que até acaba por ser entendível, porque a verdade é que o futuro é sempre incerto, quando estamos com alguém presente, mas simultaneamente ausente.
Beijinhos.
Há pedaços que deviam avisar: “Pintado de fresco”; “Zona reservada”, “Propriedade privada”. Este combina todos eles, porque ainda revela o calor e os cheiros do amor. É-me difícil comentar algo que a dois pertence, sinto-
-me um intruso no quarto de outro.
Art,
Sim, parece, que a Primavera chegou!
Para mim, a mais bela estação do ano!
Com a chegada da Primavera tudo se transforma... os corpos mais soltos, os olhares mais límpidos, os sorrisos mais abertos, a energia sente-se no ar, a alegria da renovação de vontades e desejos é “palpável” e... contagia-me... tenho a sensação que tudo, dentro de mim, se remodela... sinto ressurgir em mim a vontade de fazer, desfazer, de criar, conceber, partilhar, opinar...
Talvez, até seja tão-somente a sensação da causa-efeito desta estação... talvez, até, nada se renove e tudo continue como dantes... mas, há que tentar... agarrar, nem que seja, apenas, a impressão que sinto e viver em conformidade...
Obrigada... muito obrigada, Art... pelas palavras, pelo carinho, pela paciência que sempre tiveste comigo...
Beijinhos.
Pedro,
Que dizer-te depois de ler as tuas palavras?! Nem sei bem... talvez que “vejas” tudo quanto eu escreva e publique, como uma partilha reflectida do meu “eu”...
Partilhar, significa dar, dividir com... como tal, permitida a entrada no quarto, que entendes, seja do outro... e te sintas à vontade para opinar.
E, afinal, qual é a finalidade deste espaço, senão a partilha dos nossos pedaços?!
Muito embora, Pedro, possa até nem passar de mera ficção e assim sendo, talvez até não te sintas tanto um intruso e deixes os teus pensamentos falarem mais livremente sem achares que transpões “Propriedade privada”... :)
Beijinhos.
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