sexta-feira, março 28, 2008

Memórias da Alma sem Luz

Tenta esquecer a percentagem de água que te compõe, apaga da alma o amontoado de pele e ossos que te estruturam. Guarda bem guardadas todas as memórias no recanto do bolso. Não penses, não chores, tenta afastar os medos. Não sussurres baixinho os segredos…
Viaja apenas com a tinta da alma e escreve… Descreve com mágoa ou carinho toda a composição lógica do ser, todas as dores, todos os males. Despeja agora os suspiros escondidos, as paixões mal revolvidas, a banalidade de uma viagem no parque.
Folha após folha, mágoa por mágoa, lágrima por lágrima, tenta transpor em papel a cor de tua alma…
Agora guarda, guarda em cada recanto de tua casa, em cada palha de teu ninho, guarda cada folha bem longe da alma, bem longe da vista, dia após dia, ano após ano…
Volta a pegar um dia, alguns anos depois, muitas memórias passadas, muita fome vivida, muita dor traída, volta a pegar em tuas memórias, em cada pedaço de alma estampada no papel.
Junta de novo todas as folhas, todas as tuas histórias e atira-as bem alto no ar, mil e uma memórias caídas do céu, sem tempo sem espaço e sem sentido, volta a pegar sem organizar, sem sequer olhar…
Lê de mente aberta, cada pedaço teu…
E descobre quem és, encontra a cor de tua alma, descobre quem realmente és…
Todos nós somos memórias, todos nós somos passado…


NunoSioux 2008 in: Memórias da Alma sem Luz

2 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

Nuno,
Gosto da tua forma de escrever, e da maneira como jogas com as palavras.
Concordo contigo quando dizes que todos somos memórias, e que todos somos passado, até porque cada um de nós age, e toma decisões baseadas no acumular de experiências que fomos somando ao longo da vida. É a soma das nossas vivências, das nossas conquistas, e dos nossos fracassos, que nos ajudam ao olhar para o nosso passado, a reavaliá-lo, mas para isso temos que nos afastar um pouco de nós mesmos, para conseguirmos olhar para as situações de fora.
Abraço.

foryou disse...

Porque é que eu gostei tanto deste texto...
"Todos nós somos memórias, todos nós somos passado…" pois somos, não tenho a menor dúvida!
E mesmo que o passado se perca, continuamos a ser.

Últimamente, por coincidência, têm aparecido aqui textos que me tocam porque podiam ser meus, não pela qualidade da escrita, longe de mim comparar-me à maioria de vocês, mas pelo conteúdo que parecem adivinhar. Isso faz-me sentir que este blog é mesmo feito de pedaços e que cada pedaço é de cada um e de todos :)